A cozinheira Beatriz da Silva Rosa viu a família desmoronar em um intervalo de nove meses com as mortes do marido Leonel Andrade Santos, de 36 anos, e do filho Ryan da Silva Andrade Santos, de 4, em confrontos policiais no Morro São Bento, em Santos, no litoral de São Paulo.
“Meu sentimento é de revolta. Eu perdi meu marido tem nove meses, a polícia matou. Agora eu perdi o meu filho assim”, lamentou a mulher. O marido foi morto em 9 de fevereiro deste ano, enquanto o filho na noite de terça-feira (5).
Balearam Ryan entre as ruas São Sérgio e São Fernando. Ao site do g1, Beatriz contou que o menino estava brincando na rua. Ela contou ter visto o momento em que atingiram o filho, e acredita que o tiro tenha partido de um policial — o coronel Emerson Massera, porta-voz da PM, disse que provavelmente o disparo saiu da arma de um PM em perseguição a suspeitos.
O pai dele, Leonel, morreu por agentes do 4º Batalhão de Choque em 9 de fevereiro, durante a Operação Verão. Familiares e vizinhos que testemunharam a ação informaram que os agentes chegaram atirando. Na época, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou que balearam o homem por apontar a arma para os PMs em uma ocorrência de tráfico de entorpecentes.
Conforme a cozinheira, a figura da Polícia Militar (PM) deixou de representar ajuda. “Não é segurança. Eles [policiais], que deveriam nos proteger, estão nos matando”, lamentou Beatriz.
Família
Ryan era o mais novo entre os três filhos de Beatriz e Leonel. Com a morte dele, a cozinheira pretende deixar o Morro São Bento para proteger a família. “Não tem mais condições de ficar ali. Está todo mundo revoltado, ninguém mais quer ficar”, afirmou Beatriz.
De acordo com ela, as crianças de 7 e 10 anos eram muito apegadas ao pai, assim como Ryan. O caçula perguntava com frequência de Leonel. “Eu falava da melhor forma que o papai foi descansar, papai virou uma estrela. Agora eu tenho que ser forte por eles”, finalizou.