Simulação entrando em Buraco Negro — Foto: NASA’s Goddard Space Flight Center/J. Schnittman and B. Powell

No coração da Via Láctea, um buraco negro supermassivo desperta interesse de pesquisadores de todo o mundo: Sagitário A* (Sgr A*). Descoberto e confirmado como buraco negro só em 2022, ele está localizado a 26 mil anos-luz da Terra e se tornou uma peça-chave para desvendar o cosmos. Apesar de ter massa estimada em 4,3 milhões de vezes a do Sol e um diâmetro de cerca de 23,5 milhões de quilômetros, Sgr A* parece pequeno em comparação à vastidão da Via Láctea, que se estende por cerca de 100 mil anos-luz.

Buracos negros

Embora a ficção trate os buracos negros como meios para criar o caos na galáxia, a força gravitacional de Sgr A* ainda atua de forma discreta e só captura corpos que se aproximem demais. O Sistema Solar, portanto, estaria em segurança, visto que sua órbita ao redor de Sgr A* é estável e localizada a uma distância segura. Na verdade, mesmo se o Sol fosse substituído por um buraco negro de igual massa, a órbita da Terra provavelmente se manteria. O que realmente mudaria seria a ausência de luz e calor, tornando a vida no nosso planeta impossível.

Embora seja um gigante, Sagitário A* está em estado de dormência, e ocasionalmente absorve pequenas quantidades de matéria. O processo gera emissões de raios-X, que os cientistas conseguem captar. Para que ele se tornasse um núcleo galáctico ativo — uma região com intensas emissões de energia —, precisaria de muito mais material ao redor. No entanto, é possível que ele acorde e gere grandes impactos daqui a bilhões de anos.

Se tudo seguir o curso previsto por especialistas, em cerca de 4 bilhões de anos, a Via Láctea colidirá com Andrômeda, nossa galáxia vizinha. O evento deverá reorganizar os materiais ao redor dos buracos negros de ambas as galáxias, e poderá alimentar Sagitário A* a ponto de ativá-lo como um núcleo galáctico. Só então, nesse cenário, nosso planeta poderia acabar perigosamente próximo de um buraco negro, mas isso, claro, é uma especulação para um futuro distante.

Jornada

A jornada para entender Sagitário A* começou na década de 1930, com o físico Karl Jansky detectando ondas de rádio vindas da direção da constelação de Sagitário, próximas ao centro galáctico. Em 1974, os astrônomos Bruce Balick e Robert L. Brown identificaram e nomearam a fonte do sinal como “Sagitário A”. Nos anos 1990, o astrofísico Reinhard Genzel determinou sua massa, reforçando a ideia de que ali havia um buraco negro supermassivo.

Capturada e revelada pelo Event Horizon Telescope (EHT) em 2022, a imagem de Sagitário A* foi considerada um verdadeiro marco. Usando 11 rádio-observatórios distribuídos pelo planeta — do Ártico ao deserto do Atacama, no Chile — o EHT conseguiu criar um telescópio “do tamanho da Terra”, capaz de captar sinais de um objeto invisível a 26 mil anos-luz. A imagem final, em tons de laranja para ressaltar a intensidade da luz, mostrou o contorno do disco de acreção de Sgr A*.

Em 2008, os astrofísicos Reinhard Genzel e Andrea Ghez consolidaram a existência de Sgr A*, ganhando o Nobel de Física. Em 2018, o Very Large Telescope (VLT), no Chile, registrou emissões geradas por bolhas de gás próximas ao buraco negro, movendo-se a 30% da velocidade da luz, coincidindo com previsões teóricas.

Polêmicas

A imagem, porém, é alvo de polêmicas recentes a partir de uma análise independente do Observatório Astronômico Nacional do Japão (NAOJ). O estudo, liderado pelo cientista Makoto Miyoshi, sugere que a estrutura em forma de anel — que marcou a silhueta do buraco negro no coração da Via Láctea — pode ter sido resultado de erros na análise das imagens, gerando artefatos que não representam com exatidão a estrutura astronômica do objeto.

De acordo com os japoneses, além dos desafios impostos pela própria natureza do buraco negro, nuvens de poeira e gás entre a Terra e o centro da galáxia interferem nos sinais de rádio captados pelos telescópios.

O Globo

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