Ulisses Gabriel e João Miguel, mais novos na foto, foram envenenados com cajus — Foto: Arquivo pessoal

Ulisses Gabriel da Silva, de 8 anos, que comeu cajus envenenados em Parnaíba, morreu na tarde de domingo, 10 de novembro, após dois meses internado no Hospital de Urgência de Teresina (HUT). Ele estava no hospital desde 25 de agosto, para onde o irmão João Miguel da Silva, de 7 anos, também foi transferido. O caçula morreu em 28 de agosto.

A suspeita do crime, Lucélia Maria da Conceição Silva, de 52 anos, era vizinha das crianças e foi indiciada pelos crimes de homicídio qualificado tentado e consumado contra os irmãos. Com a morte de Ulisses, ela passa a responder por dois homicídios consumados.

Lucélia é investigada por entregar a eles um saco de cajus envenenados com terbufós, uma substância tóxica semelhante ao “chumbinho”. Ela foi presa em flagrante no dia do crime e teve a prisão convertida em preventiva.

Segundo a Polícia Civil do Piauí (PCPI), os homicídios consumados têm as seguintes qualificadoras:

O Ministério Público do Piauí (MPPI) denunciou Lucélia pelos mesmos crimes apontados pela polícia. A suspeita foi presa em flagrante, negou as acusações e teve a prisão preventiva decretada pela Justiça dias depois. Ela continua detida na Penitenciária Mista de Parnaíba.

João Miguel da Silva, de 7 anos, morreu vítima de envenenamento — Foto: Reprodução

Perícia comprova veneno nos cajus

Uma perícia feita pelo laboratório de toxicologia forense do Instituto Médico Legal (IML) foi concluída na terça-feira, 15 de outubro, e comprovou que os cajus comidos por Ulisses e João Miguel estavam envenenados com terbufós.

Segundo o diretor do IML, o médico Antônio Nunes, os cajus continham terbufós, uma substância tóxica, da classe dos organofosforados, utilizado como inseticida e nematicida (pragas de plantas). A substância é semelhante ao “chumbinho“, porém mais nocivo.

Segundo a Polícia Civil, os dois meninos receberam um saco de cajus que teria sido oferecido pela vizinha, suspeita de envenenar as crianças. Os dois irmãos foram socorridos, no dia 23 de agosto, em estado grave com sintomas de envenenamento na cidade de Parnaíba.

Sequela no cérebro

Antes de falecer, Ulisses Gabriel chegou a apresentar uma pequena melhora, mas desenvolveu uma sequela no cérebro, conforme a mãe Francisca Maria da Silva. Ele estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgência de Teresina (HUT) desde 12 de setembro. O irmão dele, João Miguel da Silva, de 7 anos, morreu devido ao envenenamento.

Ao g1, Francisca contou que a sequela deixou a coluna do menino rígida e limitou a movimentação de Ulisses. Apesar disso, ele reagia aos familiares com os olhos, ainda sem falar.

O menino recebeu alta em 6 de setembro e foi encaminhado para a clínica pediátrica, mas precisou retornar para os cuidados intensivos.

Os dois irmãos, de 7 e 8 anos, foram socorridos, no dia 23 de agosto, em estado grave com sintomas de envenenamento na cidade de Parnaíba, litoral do Piauí. A suspeita, vizinha das vítimas, foi presa horas depois. João Miguel morreu em 28 de agosto, após cinco dias internado.

O caso continua sob investigação da Polícia Civil.

Crianças receberam saco de cajus

Ulisses e João Miguel moravam com a mãe em uma residência no residencial Dom Rufino, na periferia de Parnaíba, litoral do Piauí. A mãe dos irmãos relatou que, na sexta-feira, 23 de outubro, o filho mais velho chegou à casa da família com um saco de cajus, que teria sido oferecido pela vizinha Lucélia Maria, suspeita de envenenar as crianças.

“Ele foi comer os cajus com o irmão e os dois saíram para brincar. Quando o mais novo voltou, disse que estava tonto, se sentindo mole e me pediu para segurá-lo. Eu o segurei e ele estava roxo, com a língua preta, babando e vomitando o caju”, lembrou Francisca.

O filho caçula foi levado ao hospital e, pouco depois, o irmão mais velho também deu entrada com os mesmos sintomas, levado pelo tio das crianças. Francisca disse ainda que não tem qualquer relação com a vizinha suspeita do crime.

Os irmãos foram entubados no Hospital Nossa Senhora de Fátima, anexo do Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (Heda), em Parnaíba. O transporte das crianças à capital foi feito por uma aeronave do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Prisão preventiva de vizinha

Lucélia Maria foi presa no dia do crime. Conforme a polícia, ela já tinha histórico de brigas com a vizinhança e episódios de envenenamento de animais no entorno da residência. A casa dela foi queimada por vizinhos.

Na decisão que converteu a prisão em flagrante da suspeita em preventiva, o juiz Marcos Antonio Moura Mendes apontou que a materialidade do crime foi demonstrada e existem indícios de autoria, tais como:

Os policiais encontraram, debaixo de uma cômoda na casa de Lucélia, invólucros de uma substância que seria estricnina, conhecida popularmente como “chumbinho”. A substância pode provocar desordem convulsiva, contrações musculares e falência respiratória.

O material, contudo, continua em análise pela perícia da Polícia Civil. Também está sendo analisando o material encontrado no estômago das crianças.

A mulher alegou que utilizava a substância para matar ratos. O material e uma sacola com cajus foram apreendidos e levados para perícia no Instituto de Criminalística. A suspeita está presa na Penitenciária Mista de Parnaíba.

G1 PI

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