A grave lesão de Pedro foi uma perda irreparável para o Flamengo em 2024, mas poderia representar a chance de uma volta por cima de Gabigol no clube onde é ídolo e anda em baixa desde o ano passado. Só que, na prática, o camisa 99 foi parar no fim da fila dos centroavantes rubro-negros nos últimos meses de contrato.
Quando o Flamengo decidiu que não iria contratar nenhum substituto para Pedro, a diretoria fez questão de dizer que confiava nas três opções de centroavantes do elenco, embora a alternativa por Bruno Henrique seja com improviso de um ponta-esquerda, e lembrou o histórico de Gabigol:
- Temos mais três centroavantes no elenco: Carlinhos, Gabigol e o próprio Bruno Henrique. Isso não quer dizer que quando soubemos do Pedro não ficamos atentos, começamos a conversar sobre possibilidade e necessidade de trazer outro jogador. A perda é irreparável em um primeiro momento, era o titular da posição, mas a gente confia nos que estão aqui. Sempre confiou. O próprio Gabigol em três finais de Libertadores fez gol em todas, nos deu dois títulos, claro, com os companheiros. Mas é de extrema confiança nossa tanto o Gabigol quanto os outros – disse o vice-presidente de futebol rubro-negro, Marcos Braz, em coletiva no dia 5 de setembro.
Porém, nos dois primeiros jogos desde a lesão de Pedro, o escolhido para ser titular na função foi Bruno Henrique. E na primeira partida em que os três estavam disponíveis (Carlinhos não está inscrito na Copa do Brasil), o centroavante ex-Nova Iguaçu entrou em campo antes de Gabigol. Questionado sobre sua escolha em entrevista coletiva, Tite citou até os treinos em sua justificativa:
- Treinamento. Jogos. Especificamente. Carlinhos decisivo contra o Bolívar, contra o Atlético-MG, com gol, decisivo contra o Vitória. Foi por isso essa opção. Agregado a isso, BH decisivo contra o Bahia com gol, decisivo contra o Bahia com assistência. (…) Nós fizemos o gol com Carlinhos em campo. E o desempenho do Carlinhos nos outros jogos, foi isso que me levou a decidir – disse o treinador.
Gabigol entrou aos 25 minutos do segundo tempo contra o Bahia, na Copa do Brasil, e aos 37 diante do Vasco no Brasileirão (em ambas partidas, foi acionado quando o time vencia por 1 a 0). Os 38 minutos somados não são nem 1/4 dos 195 jogados pelo Flamengo desde a lesão de Pedro. E se contra o Bahia havia a justificativa de que ele estava voltando de lesão, agora ficou evidente o fim da fila. Antes mesmo do clássico, quando Bruno Henrique não treinou na véspera, quem ficou de titular foi Carlinhos.
Diferentes posicionamentos em campo
Nesses dois jogos, curiosamente, Gabigol entrou no lugar de Arrascaeta e não no do centroavante que estava em campo. Contra o Bahia, por exemplo, ele atuou distante do gol (veja no mapa de calor abaixo). Ele só passou a ser a referência no ataque após a saída de Bruno Henrique aos 43 do segundo tempo. Já contra o Vasco, o camisa 99 entrou centralizado, com Carlinhos flutuando mais por trás.
O ge apurou que a comissão técnica de Tite enxerga o melhor encaixe de Gabigol de duas formas: como centroavante, com um meia organizador por trás, como por exemplo Arrascaeta ou Alcaraz; ou com uma dupla de ataque, com ele atacando a profundidade, tendo dois meias abertos e dois volantes para dar sustentação (algo similar à formação utilizada por Dorival Júnior em 2022).
Clima de despedida perto dos 300 jogos
Jogador mais longevo do atual elenco, Gabigol está então a quatro jogos de completar 300 partidas com a camisa rubro-negra.
Pessoas próximas a Gabigol garantem que o atacante estava motivado com a possibilidade de ter maior sequência na reta final da temporada, mas ultimamente tem ficado mais na dele no dia a dia no clube e sequer reagiu às poucas oportunidades recentes. O ge ouviu que não houve problema com ele no vestiário.
Internamente no clube há quem acredite que o atacante já está assim conformado que irá sair em dezembro. Fato é que a diretoria mudou o tom sobre a renovação. Se antes o discurso era sempre que no momento certo iriam conversar sobre, agora Braz já admitiu publicamente que Gabigol deve deixar o Flamengo em 2025:
- As renovações, as ampliações de contrato, são feitas sistematicamente dentro do Flamengo. Tem que subir da base, tem que fazer alguns reajustes… Isso a gente faz sempre. É claro que na hora certa… Na hora certa não, num determinado momento poderá ter a hipótese de se tentar uma renovação de contrato. Eu acho que isso, dentro da situação que tem hoje, não é nada impossível, mas infelizmente é pouco provável – declarou após a vitória sobre o Bahia semana passada.
Em 296 jogos no Flamengo, Gabigol soma 157 gols bem como 44 assistências e 12 títulos: quatro Cariocas, duas Libertadores, dois Brasileiros, duas Supercopas do Brasil, uma Copa do Brasil e uma Recopa Sul-Americana.