Natural de Lages (SC), Mohamad Abou Wadi, 46 anos, filho de uma brasileira e um libanês, foi para a cidade de Kefraya, no Líbano, com sua família aos três anos de idade, em 1983. Ele permaneceu no país por seis anos, até 1989. No período, o Líbano estava em conflito com Israel e o jovem chegou a ter o apartamento bombardeado algumas vezes.
O tempo passou, Mohamad voltou ao Brasil, se formou em odontologia, e após perceber que o setor oferecia poucas especializações na área, decidiu abrir a sua própria rede de ensino. Hoje o empreendedor é fundador do Grupo Kefraya, uma holding composta por seis empresas da área de educação odontomédica e estética, que se expande com franquias.
Grupo Kefraya
No início de novembro ele saiu do comando da holding e foi para o conselho. Atualmente o grupo conta com 73 unidades, sendo 31 próprias e o restante franquias, e está presente em 16 estados com as seis empresas:
- Instituto Orofacial das Américas (IOA)
- Instituto de Treinamento em Cadáveres (ITC)
- Lapidare: pós-graduação na área de medicina estética
- Jovié: ensino de estética facial e corporal
- MyDoctor: ensino na área de medicina
- FACE.U: graduação em odontologia voltada para a estética facial. Esta é a única que ainda não adotou o franchising.
Além do Kefraya, Mohamad também fundou as universidades PIB Education e LifeUnic, e é presidente do conselho de administração da Uniavan. Juntas, as companhias faturaram R$ 250 milhões em 2023, e a projeção é que a receita chegue a R$ 350 milhões em 2024 — ele não divulga o faturamento do Grupo Kefraya isoladamente.
O Grupo Kefraya nasceu da sociedade entre Mohamad e Chaim Zaher, fundador do Grupo SEB, um dos maiores grupos de educação do país, e do fundo de investimentos Crescera — que tinha como sócio o ex-ministro da economia Paulo Guedes.
Além da expansão nacional, a empresa já está de olho na internacionalização em 2026, principalmente, na América Latina e Europa. O investimento para se tornar um franqueado do grupo dependerá da empresa, mas os valores ficam entre R$ 1,8 milhão e R$ 3 milhões além da taxa de franquia de R$ 120 mil. Segundo o CEO, o faturamento médio fica em torno de 20% a 25% e a previsão de retorno entre 24 e 36 meses.
Pai queria que fosse “doutor”
Segundo Mohamad, o empreendedorismo sempre esteve presente em sua família. No Líbano, com oitos anos, o jovem trabalhava com seu avô na colheita de uvas em vinícolas da região; depois, com seu pai, viajava para Beirute para buscar móveis para a loja da família. Nessa época, o país estava em guerra com Israel e o jovem viu de perto os horrores causados pelo conflito.
“Eu vi todas as cenas de guerra que você pode imaginar. Os caças sobrevoando minha casa, bombardeando vizinhos. Alguns, inclusive, morreram. Algumas vezes, no apartamento do meu tio, nós fomos bombardeados, e eu tive que descer para o bunker correndo”, diz o empreendedor.
Quando retornou ao Brasil, aos 12 anos, Mohamad passou a vender sapatos e roupas com seu pai. Depois, quando adulto, se tornou sócio de uma casa sertaneja e produziu a Festa Nacional do Pinhão, em Lages. Mas o sonho do pai era que o filho fosse um “doutor”.
“Os libaneses que vieram naquela época (anos 80 e 90) ficaram somente no comércio e essa área castiga muito. Essa sempre foi uma dor muito grande deles e eles desejavam que seus filhos fossem doutores. Uma boa parte foi fazer medicina e outra, assim como eu, foi para a odontologia”, diz Mohamad.
Porém, um ano após a sua formatura, o seu pai sofreu um infarto e precisou de um transplante. A situação deu novas responsabilidades para o jovem que precisou sustentar sua família com 21 anos.
“Eu comecei meu consultório. Peguei minha experiência do comércio e levei para a área da saúde. A minha clínica era diferente das demais, tinha uma cara de loja, uma vitrine, oferecia parcelamento, por exemplo. Eu não tinha padrinho, pai ou tio médico, precisei me reinventar”, relembra.
Investimento na educação
Para se diferenciar da concorrência, o empreendedor decidiu investir em sua educação. Mas, além do preconceito, ele percebeu que existiam poucas universidades e vagas na área e as que existiam cobravam preços exorbitantes.
“Esse sofrimento me marcou muito na época e eu desejei criar uma escola mais democrática para que as pessoas tivessem mais acesso. Fiz uma parceria com a Universidade do Planalto Catarinense e desenvolvemos uma pós-graduação”, destaca o empreendedor.
A constituição da holding
Em 2001, nasceu o Instituto Orofacial das Américas (IOA) em Lages (SC). Um ano depois, a companhia iniciou sua expansão para outras cidades. Já Mohamad fez seu doutorado e é especialista em três áreas: implante, prótese e ortodontia.
Em 2021, a IOA fez uma fusão com o Grupo SEB, criado pelo libanês Chaim Zaher, que tem em seu portfólio marcas como Maple Bear e Colégio Einstein. Um ano depois, o fundo de investimentos Crescera também entrou no negócio — a divisão da sociedade não foi divulgada.
Além disso, paralelamente à odontologia, Mohamad seguiu de olho em outras áreas da educação. O empreendedor assumiu a cadeira de diretor presidente da Uniavan (rede catarinense de educação básica, graduação e pós-graduação) em meados de julho de 2013 e em abril de 2022 passou para o cargo de presidente do conselho de administração.
A PIB Education, com foco em educação corporativa, foi constituída em dezembro de 2023 por Mohamad, que segue como CEO. Já a LifeUnic, universidade em Santa Catarina, foi idealizada pelo empreendedor em janeiro de 2020, e ele atua no conselho desde então.