A médica Ellenn Salviano, atuando há quase nove anos na medicina, principalmente em hospitais públicos e no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) do Rio Grande do Norte, tomou uma atitude inovadora e crucial para salvar a vida de um bebê de três meses em Santa Cruz, no Agreste potiguar. Usando uma embalagem de bolo como capacete de oxigênio, ela conseguiu estabilizar o bebê que estava em estado crítico.
“Ali estou nos meus braços com o amor de alguém. Quando saio de casa e deixo meus três filhos, assumo a responsabilidade que é cuidar do outro. Então eu não podia olhar para aquela mãe e dizer que não podemos”, disse Ellenn, demonstrando seu compromisso com a vida dos pacientes.

Situação crítica e solução diferente
O paciente chegou ao Hospital Municipal de Santa Cruz no sábado, 8 de junho, e, na manhã da segunda-feira, 10 de junho, quando a médica Ellenn entrou no plantão, percebeu que a criança estava em uma condição extremamente grave. O bebê apresentava cianose, uma condição que indica má oxigenação do sangue, com manchas roxas na pele.
“Se ele passasse mais tempo assim, o risco era de uma parada cardíaca. O próximo passo seria intubar, o que seria muito difícil para o paciente e reduziria a chance de sobrevivência”, explicou Ellenn. Frente à situação, a médica decidiu improvisar, utilizando uma embalagem de bolo para criar um capacete de oxigênio.
Experiência com improvisos
Ellenn e sua equipe já tinham experiência em improvisar capacetes semelhantes, principalmente no Samu. Em apenas uma semana, esta foi a terceira máscara improvisada pela médica. O bebê permaneceu com o equipamento por cerca de quatro horas, até a chegada de materiais emprestados pelo Hospital Universitário Ana Bezerra, também em Santa Cruz. Esse tempo foi crucial para estabilizar a oxigenação do bebê a níveis “quase normais”.
Apesar do sucesso, Ellenn enfatiza a necessidade de mais investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), destacando que o improviso, embora eficaz, não é a solução ideal. “Deu certo, que bom, mas poderia ter dado errado. E se tivesse dado errado, seria agora uma mãe chorando a morte do seu filho por um equipamento tão simples que a gente não tem”, disse a médica, ressaltando que um “hood” de acrílico custa cerca de R$ 500.
O Caso do bebê
O bebê de três meses deu entrada no Hospital Municipal de Santa Cruz no sábado, 8 de junho, com um quadro de desconforto respiratório grave, congestão nasal, febre, rinorreia, vômitos e diarreia. Na segunda-feira, 10 de junho, quando assumiu o plantão, a médica Ellenn Salviano improvisou um respirador com uma embalagem de bolo para o bebê.
A mãe do bebê, Kadja Juliane, relatou que ele chegou ao hospital “muito debilitado”. O bebê possui um quadro de saúde delicado, com hidrocefalia, uso de bolsa de colostomia e síndrome de Dandy-Walker, uma malformação cerebral que pode causar problemas no desenvolvimento motor e aumento progressivo da cabeça. Na terça-feira, 11 de junho, o bebê foi transferido para Natal, onde recebeu tratamento no Hospital Infantil Varela Santiago.
Importância do improviso
O médico Francisco Júnior, do Samu, que atuou na transferência de Santa Cruz para Natal, destacou a importância do improviso com a embalagem de bolo. “Realmente ajudou bastante o rapazinho a voltar a respirar bem, a ter uma boa penetração de oxigênio no pulmão. Foi fundamental para ajudar na recuperação dele”, afirmou.