
Por mais que evidências reais de vida em Marte ainda não tenham sido encontradas, um novo estudo feito por pesquisadores da Nasa sugere que a água congelada na superfície do planeta possui as condições necessárias para servir de lar para microrganismos. Usando modelos de computador, cientistas conseguiram que a incidência de luz solar através da camada de gelo marciana seria suficiente para permitir a realização de fotossíntese. E, por tabela, a existência de alguma forma de vida fotossintetizante.
Esse tipo de ecossistema formado em piscinas dentro de gelo já foi identificado diversas vezes na Terra. Geralmente, eles estão repletos de formas de vida, com espécies de algas, fungos e cianobactérias microscópicas, todas fotossintéticas.
“Se estamos tentando encontrar vida em qualquer lugar do universo hoje, as áreas de gelo marciano estão, provavelmente, entre os lugares mais acessíveis que deveríamos procurar”, ressalta Aditya Khuller, líder do projeto, em nota. Um artigo que descreve a pesquisa em detalhes foi publicado nesta quinta-feira (17) na revista Nature Communications Earth & Environment.
Gelo de Marte
Ao longo das últimas décadas, os cientistas descobriram diversas informações sobre a superfície de Marte. Dentre elas, que o planeta apresenta blocos de água congelada e dióxido de carbono sólido (popularmente conhecido como “gelo seco”).
Em seu estudo, a equipe liderada por Khuller identificou que grandes quantidades do gelo tradicional (de H2O) se formaram a partir de uma mistura de poeira e neve, a qual caiu na superfície marciana durante suas eras glaciais. Segundo os pesquisadores, esse é um fator essencial para explicar o surgimento das poças de água subterrâneas.
Dado que as moléculas de poeira escura absorvem mais luz solar do que as de água ao seu redor, é possível que a sua presença faça o gelo marciano aquecer mais do que o gelo “puro”. Isso poderia fazer o material poderia derreter mais que o esperado, escorrendo até alguns metros abaixo da superfície.
Não existe um consenso entre os especialistas se o gelo pode realmente derreter quando exposto à superfície marciana. Alguns argumentam que, devido a sua fina e seca atmosfera, o gelo sublima, passando diretamente para o estado gasoso – da mesma forma que o gelo seco faz na Terra. Contudo, como aponta este novo estudo, tais efeitos atmosféricos não se aplicariam abaixo da superfície de uma camada de neve empoeirada ou geleira.
Microcosmos prósperos
Na Terra, a poeira dentro do gelo pode criar o que são chamados buracos de crioconita. Essas pequenas cavidades se formam quando partículas de poeira levadas pelo vento pousam no gelo, absorvem a luz e derretem. Conforme essas partículas se afastam dos raios solares, elas param de afundar, mas ainda geram calor suficiente para criar uma bolsa de água derretida ao redor delas.
“Isso é relativamente comum em nosso planeta”, explica Phil Christensen, coautor do projeto. “Neve densa e gelo podem derreter de dentro para fora, deixando entrar a luz do Sol que o aquece como uma estufa, em vez de derreter de cima para baixo”.
A equipe estima que, as piscinas subterrâneas marcianas podem ocorrer a uma profundidade de até 3 metros abaixo da superfície. Neste cenário, as camadas superiores de gelo impedem que as poças rasas de água do subsolo evaporem, ao mesmo tempo em que fornecem proteção contra radiação prejudicial. Isso é importante porque, diferentemente da Terra, Marte não tem um campo magnético protetor para protegê-lo do Sol. Se há água e há Sol chegando, já é uma receita promissora para a existência de vida.
O artigo indica que o gelo de água com maior probabilidade de formar poças subterrâneas existiria nos trópicos do planeta, entre 30 graus e 60 graus de latitude, tanto no hemisfério norte quanto no sul. Com isso em mente, Khuller espera recriar parte do gelo empoeirado de Marte em um laboratório para estudá-lo de perto. Encontrar pontos de água líquida é essencial para as futuras missões humanas.