Alívio é a palavra que define os sentimentos de um dos quatro sobreviventes do naufrágio do navio de carga Concórdia, que afundou a cerca de 15 quilômetros do litoral de Pernambuco, na altura da Ilha de Itamaracá. Mozart Gomes da Fonseca, de 57 anos, contou à TV Globo que o navio perdeu o leme, o que provocou desespero entre os tripulantes.
O Concórdia levava 180 toneladas de materiais de construção e alimentos para o arquipélago de Fernando de Noronha, quando naufragou na noite de domingo, 15 de setembro.
Segundo a Marinha, eram nove tripulantes no navio no momento do naufrágio. Quatro foram resgatados com vida, quatro corpos foram encontrados na segunda-feira, 16 de setembro e um tripulante segue desaparecido até a última atualização dessa reportagem.
“Tudo aconteceu muito rápido, o barco perdeu estabilidade, já estava com uma banda e a gente não iria conseguir chegar até um porto seguro. […] O tempo não ajudou, é mar, o nosso habitat natural é aqui em terra e ficamos sem governo. É como um carro que tem motor, mas não tem volante para dar o destino”, disse Mozart.
De acordo com ele, na metade da viagem, por volta das 16h do domingo, 15 de setembro, o barco começou a perder o controle na altura da Reserva de Acaú, em Goiana, no Litoral Norte.
Mozart, que navega há mais de 20 anos, acredita que as sacolas de areia que estavam no convés molharam e, por terem ficado mais pesadas, ajudaram na virada da embarcação.
“O barco já estava muito adernado por conta da carga, que pegou muita água, vento forte. A gente estava com carga seca no convés, era areia, e quando a agua bate, triplica. Quando a gente conseguiu adaptar uma baitera, ainda arengamos, passamos com um rebocador de apoio, mas o barco continuou adernado, até que chegou o momento em que todo mundo pegou o equipamento de salvatagem”, contou.
Ao cair na água, Mozart machucou a bacia e a coluna e teve que enfrentar fortes ondas. Era por volta das 20h do domingo, 15 de setembro, quando o naufrágio aconteceu. O marinheiro relatou que, nos minutos de desespero, ele abriu mão do próprio equipamento para dar ao outro colega.
“Eu já estava agarrado na escada de quebra-peito e disse ‘segura aqui essa boia circular’. No último gás, eu consegui chegar até a metade”, afirmou.
Mozart também reforçou os agradecimentos à equipe do navio de reboque, que tentou ajudar quando viu que o barco estava adernando. “Eu estou aqui hoje contando a história porque ele não desistiu da gente em momento algum; eles conseguiram colocar um farol de busca e vieram em cima”, disse.
Sobre o comandante do navio Concórdia, Edriano, que ainda não sabe se é a pessoa desaparecida, ou se é uma das quatro vítimas que foram resgatadas e cujos corpos foram levados para o Instituto Médico Legal (IML), no Recife, o marinheiro falou:
“Trabalhamos juntos por mais de 22 anos e é uma pessoa [o comandante] que tem sua experiencia. O que aconteceu, só quem vivenciou sabe”, disse Mozart à TV Globo.
Buscas por último desaparecido continuam
De acordo com a Marinha, nove pessoas faziam parte da tripulação. Quatro foram resgatadas com vida, três corpos foram encontrados na segunda-feira, 16 de setembro, e uma pessoa segue desaparecida. De acordo com o marinheiro Mozart, esta nona pessoa é o comandante da viagem, identificado apenas como Edriano.
“Na hora, ele deu uma guinada para dentro do camarote para pegar os equipamentos dele. Então, ele deve ter levado uma pancada muito forte e descido junto. A gente sofre porque a gente é uma família e a perda foi grande”, contou o marinheiro à TV Globo.
A Marinha esclareceu que um “Inquérito Administrativo sobre Acidentes e Fatos de Navegação” foi instaurado para apurar as causas e as circunstâncias do naufrágio e que não foi constatado indícios de “poluição hídrica” no local do acidente – para esclarecer sobre a possibilidade de vazamento de combustível do navio que afundou.
Filho de comandante tem esperanças de encontrar pai com vida
Em entrevista ao programa Encontro, da TV Globo, Anderson, o filho de Edriano, contou que a família passa por um momento de angústia por não saber o que aconteceu com o comandante.
“A gente ainda está aqui no IML, sem as informações de quem foram os resgatados, e não temos a informação de quem foi o desaparecido. É nessa apreensão. Pelo que foi informado pelo pessoal que fez o resgate, deu para conhecer três dos que foram resgatados em óbito. A Marinha não deixou o pessoal chegar perto”, disse.
Anderson trabalhou com o pai no Concórdia por anos, mas abandonou a profissão por causa dos riscos. Ele conhecia mais dois tripulantes, Marco e Leandro, que foram resgatados com vida. A Anderson, eles disseram que o pai dele voltou para o interior da embarcação quando o naufrágio começou.
“Ele retornou para pegar mais material para auxiliar os outros que estavam no mar, porque o mar estava muito agitado e era um pessoal que tinha certa idade; e ele foi justamente para salvar a vida desses tripulantes e foi o momento que a embarcação virou com ele”, contou.
A empresa proprietária do navio ainda não se pronunciou sobre o naufrágio.
Três corpos foram encontrados a 4 Km da costa
Os corpos de três tripulantes que morreram após o naufrágio foram encontrados a cerca de quatro quilômetros da costa, no início da tarde de segunda-feira, 16 de setembro. As informações foram confirmadas à TV Globo pelo mestre rebocador Jorge Filho, que participou das buscas e ajudou a encontrar os corpos.
O corpo de um quarto tripulante também foi localizado, mas não há informações sobre o local. Os corpos das vítimas foram encaminhados para o Instituto Médico Legal (IML), no bairro de Santo Amaro, no Recife.
Já os sobreviventes, que foram resgatados logo após o naufrágio pelo navio rebocador “Cormoran”, foram identificados como:
- Edvaldo Baracho da Silva;
- Marcelo Cláudio da Conceição Freitas;
- Mozart Gomes da Fonseca;
- Valcei Gomes da Costa.
G1