Outro jogo, mesmo roteiro. O Vasco novamente não foi brilhante contra o Athletico-PR, mas outra vez venceu de virada, por 2 a 1, em São Januário. O confronto da noite de quinta-feira foi válido pelas quartas de final e, na base da entrega, o time leva vantagem de um gol para a partida de volta, em Curitiba, no dia 11 de setembro. A reação teve o dedo de Rafael Paiva.
O treinador teve desfalques importantes para este jogo. Além de David, que se recupera de um quadro de celulite facial e também não atuou na segunda-feira, Paulo Henrique e Adson não jogaram. O lateral-direito estava suspenso, enquanto o atacante, lesionado, passará por cirurgia.
Sem essas peças, o Vasco teve dificuldades no primeiro tempo. A principal delas foi neutralizar as chegadas do Athletico pelos lados, com Canobbio e Cuello. Puma Rodríguez e Lucas Piton sofreram, porque faltou recomposição dos pontas e volantes vascaínos. A falta de compactação permitiu ao adversário a superioridade na frente em muitos momentos, mas sem agressividade.
Diante de um Athletico que fazia cera e parecia satisfeito com o placar inalterado, o Vasco não conseguiu esquentar o jogo morno que agradava ao Furacão. Em um erro de posicionamento da defesa, primeiro com Lucas Piton não fechando a linha de quatro e depois com João Victor não acompanhando Christian, o time paranaense abriu o placar, aos 31 minutos.
– A gente tem tomado mais gols do que a gente gostaria antes de fazer – resumiu Rafael Paiva ao analisar o roteiro parecido com jogos anteriores, em que o Vasco saiu atrás no placar e sofreu gol ainda no primeiro tempo.
Foi uma primeira etapa de poucas oportunidades para os dois lados. O Vasco até teve mais chances, com sete finalizações contra duas do Athletico, mas nenhuma delas no gol defendido por Léo Linck.
O time sentiu falta do seu cérebro: Payet teve uma de suas piores atuações pelo clube. Com bola rolando ou parada, o francês errou quase tudo que tentou, inclusive uma finalização com o caminho para o gol aberto. Emerson Rodríguez conseguiu uma jogada ou outra, mas também errou em muitas decisões. Rayan foi mais lúcido, mas o jogo passou pouco por seus pés.
Neste mesmo cenário, o Vasco voltou para o segundo tempo: sem poder de criação e se expondo com erros que permitiram oportunidades ao Athletico. A dupla de zaga, Mateus Cocão e Payet erraram saídas de bola que quase atrapalharam o time. Só não complicaram porque o adversário também esbarrou nos seus erros e não conseguiu transformar o momento melhor em gol.
Só quando as mudanças começaram, aos 19 minutos do segundo tempo, que o Vasco passou a ganhar campo e ocupar os espaços do Athletico. A principal alteração foi a entrada de Sforza na vaga de Mateus Cocão. O argentino se aproximou dos zagueiros para fazer a saída de bola vascaína e deu mais liberdade para Hugo Moura e os laterais transitarem.
Puma Rodríguez, principalmente, fazia um jogo mais defensivo até então. O lateral parecia receoso em deixar seu posto, que vinha sendo ameaçado por Canobbio. Acontece que o Vasco já não tinha Adson. Então, as ações ofensivas pelo lado direito eram praticamente nulas.
Outra mudança importante foi a saída de Payet para a entrada do estreante Jean David, que assumiu a ponta direita e liberou Rayan para preencher a área ao lado de Vegetti. Sem o camisa 10, Hugo Moura foi o responsável por organizar o meio-campo. E cumpriu com êxito.
O volante foi o melhor jogador do Vasco. Já fazia boa atuação mesmo quando o time não jogava bem e, no papel de construtor, abriu o caminho para a virada. A primeira grande chance do segundo tempo saiu dos pés de Hugo Moura em cruzamento que terminou com finalização de Puma – a essa altura, o lateral já se arriscava mais no ataque.
Tanto que dois minutos depois do lance perigoso, aos 34, Puma empatou o jogo. O Vasco empurrou o Athletico para o seu campo. O zagueiro João Victor, na boca da área, deixou de calcanhar para Jean David, que levantou na área. Rayan ajeitou de peito, e o lateral-direito finalizou na gaveta. Belo gol no momento em que o time passou a chegar com mais jogadores no campo adversário.
O Vasco foi premiado pela maior presença na área. Em um jogo em que até então os cruzamentos não tinham entrado, Lucas Piton cobrou escanteio para a virada. João Victor cabeceou, e Hugo Moura desviou para o gol, aos 47. Merecidamente, o volante assinou a vitória que passou pelos seus pés.
– Fica a capacidade que a gente tem tido de se controlar. Tem um trabalho psicológico por trás, dentro de campo, multidisciplinar, de todos os atletas, de poder virar o jogo… Acho que mais atletas estão entendendo o que a gente busca, mais vitórias, pontuar sempre, ganhar em casa. Estamos conseguindo deixar mais jogadores do grupo no nível que a gente quer, técnico, tático, psicológico. É fortalecer e qualificar os jogadores que temos – destacou o treinador.
O Vasco de Rafael Paiva é o time da reação. Um time que, mesmo nos seus piores momentos, vende caro suas derrotas. Um time no qual o treinador pede para a torcida acreditar e que dá sinais de que merece o voto de confiança. Mesmo na adversidade, com um elenco limitado e cheio de desfalques, o Vasco de Paiva chegou ao G-8 do Brasileirão e está em vantagem nas quartas de final da Copa do Brasil. Tem feito valer a alcunha de time da virada.