O presidente do Brasil, Lula, e a primeira-dama Rosangela ‘Janja’ da Silva posam para foto ao lado do presidente da Argentina, Javier Milei, e sua irmã, Karina — Foto: Ricardo Stuckert/Presidência do Brasil/AFP

O encontro do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com seu homólogo argentino, Javier Milei, foi marcado por clara frieza durante a Cúpula de Líderes do G20, realizada na segunda-feira no Rio de Janeiro. Enquanto lideranças convidadas foram recebidas com um sorriso, a recepção de Milei foi o retrato do afastamento que dominou a relação entre os dois países no último ano. Após o encontro, o argentino repostou em sua conta no X um vídeo em que aparece distante de Lula durante o cumprimento e cuja legenda diz: “É melhor manter os esquerdistas e os comunistas afastados”.

Na sequência, depois das imagens de Milei e Lula, aparecem cenas antigas do argentino ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em que os dois se abraçam e comemoram. A diferença do tratamento não é exatamente uma novidade: a primeira viagem de Milei ao Brasil como chefe de Estado, ocorrida em julho, foi marcada pela quebra de protocolo. O argentino foi a Balneário Camboriú (SC) para um congresso conservador. Na ocasião, Milei não se encontrou com o petista e tratou Bolsonaro como “perseguido judicial”. Mesmo sem mencionar o líder brasileiro, ele atacou governos de esquerda na América Latina.

Relação entre os dois presidentes

Antes mesmo disso, a relação entre os dois presidentes já estava estremecida: o argentino realizou reiterados ataques ao brasileiro durante a campanha. E, ainda em julho, antes de chegar ao Brasil, ele chamou Lula de “corrupto” e cancelou a ida à Cúpula do Mercosul, no Paraguai, para participar da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) em Santa Catarina. Na época, o Itamaraty aconselhou Lula a não responder, mas observou com atenção os passos do presidente do país vizinho para o caso de uma possível escalada.

Na segunda-feira, portanto, a frieza de Milei com Lula era esperada. Ainda assim, o cumprimento entre os dois, que durou 15 segundos, impressionou até mesmo jornalistas argentinos que acompanhavam pelo telão da sala de imprensa. No G20, o presidente da Argentina também se opôs às principais propostas da presidência brasileira, embora tenha decidido aderir de última hora à Aliança contra a Fome e a Pobreza, que deve ser a principal marca da liderança do Brasil na cúpula.

O líder argentino chegou ao Rio no domingo e se hospedou no hotel Othon Plaza, em Copacabana, acompanhado por sua irmã, a secretaria geral da Presidência argentina, Karina Milei, e não saiu sequer para jantar. Como costuma fazer, ficou em seu quarto e manteve contato apenas com seus colaboradores mais próximos, sobretudo sua irmã e braço direito. Sua comitiva inclui o chanceler Gerardo Werthein, o porta-voz Manuel Adorni, o ministro da Economia Luis Caputo, o secretário de Finanças Pablo Quirno e o secretário de Coordenação da Produção Juan Pazo. No lobby, Milei foi recebido com gritos de “Viva a liberdade!”.

O Globo

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