No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma, e cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. Com o envelhecimento da população, é natural que se torne uma doença cada vez mais prevalente, o que deu ainda mais peso à conferência da médica Daniela Wittmann – tema da quarta e última coluna do blog sobre o 25º. Congresso Mundial de Medicina Sexual.
Professora de urologia da Universidade de Michigan e presidente do Comitê de Oncosexologia da Sociedade de Medicina Sexual da América do Norte (SMSNA em inglês), ela coordenou a elaboração do “Guidelines for sexual health care for prostate cancer patients: recommendations of an internacional panel” (“Diretrizes para os cuidados com a saúde sexual de pacientes com câncer de próstata: recomendações de um painel internacional”). Baseado em mais de 600 estudos e com a participação de especialistas de diversas áreas, o trabalho foi publicado no “The Journal of Sexual Medicine”.
A disfunção sexual é a queixa mais frequente de homens que se submetem ao tratamento de câncer de próstata. O impacto na qualidade de vida dos pacientes ocorre em todas as esferas, explicou Wittmann. Do ponto de vista biológico, há alterações hormonais, além de desconfortos como dor e perda de sensibilidade. No plano psicológico, podem surgir quadros de ansiedade e depressão; no interpessoal, pensamentos negativos associados à própria imagem acarretam o receio da intimidade, que são agravados pela falta de comunicação; e há também o meio sociocultural, com crenças religiosas, normas e valores que cada um carrega.
A professora enfatizou que é fundamental que a abordagem médica se baseie em expectativas realistas em relação à possível disfunção sexual posterior ao tratamento, até porque atualmente há muitas opções para mitigar as consequências adversas do tratamento:
“Os homens raramente retornam ao estado original (“baseline”) das suas funções sexuais depois do tratamento, independentemente se for radioterapia ou prostatectomia radical. É natural que haja um sentimento de luto nesse período de recuperação”, afirmou.
Além da disfunção erétil, há risco de anorgasmia (ausência de orgasmo), disorgasmia (dor durante ou após o orgasmo) e climactúria, caracterizada pela perda de urina durante o orgasmo, entre outros distúrbios. Há homens que se ressentem com o fato de não ejacularem mais.
A recuperação das funções sexuais é um processo que, frequentemente, demanda uma equipe multidisciplinar. Felizmente, a reabilitação peniana, o conjunto de técnicas e procedimentos que visam a melhorar a saúde e a função erétil do pênis, dispõe de um arsenal, que vai de medicamentos orais para permitir ereções satisfatórias a injeções intracavernosas.