Pesquisa analisou impacto que dieta menos rica em açúcar no início da vida tem em crianças do Reino Unido — Foto: Providence Doucet/Unsplash

Um estudo divulgado na quinta-feira, 31 de outubro, na revista Science mostrou que crianças que tiveram uma dieta com pouco açúcar durante os primeiros 1000 dias de vida, incluindo o período gestacional, tiveram uma redução expressiva no risco de desenvolver doenças crônicas, como o diabetes tipo 2, além de uma tendência a postergar o surgimento dessas condições.

Feita por cientistas da Universidade do Sul da Califórnia em parceria com a Universidade da Califórnia Berkeley e McGill, a pesquisa quantificou que uma ingestão de açúcar dentro dos níveis recomendados nas diretrizes alimentares reduz o risco de diabetes tipo 2 em até 35% e o de hipertensão em até 20%. Além disso, a dieta atrasou o surgimento dessas doenças em quatro e dois anos, respectivamente.

Experimento natural realizado em 1953

Para obter esses resultados, os pesquisadores analisaram dados de um experimento completamente natural feito no Reino Unido em 1953. O país enfrentou um racionamento de açúcar e doces após a Segunda Guerra Mundial, que foi encerrado em 1953. Durante esse período, a quantidade permitida de açúcar era inferior a 40 gramas por dia para adultos e nenhuma para crianças menores de dois anos. No entanto, o fim das restrições fez com que o consumo quase dobrasse, passando de cerca de para 80 g por dia.

Essa alteração repentina proporcionou dados valiosos sobre o efeito do consumo de açúcar. As informações foram armazenadas em um banco de dados de saúde e, em seguida, utilizadas para comparar a saúde de 38 mil indivíduos que nasceram durante o racionamento com a de 22 mil pessoas que foram concebidas logo após.

“O que é fascinante é que os níveis de açúcar permitidos durante o racionamento refletem as diretrizes atuais. Nosso estudo sugere que se os pais seguissem essas recomendações, isso poderia levar a benefícios significativos para a saúde de seus filhos”, disse Claire Boone, coautora do estudo e professora assistente na Universidade McGill, em comunicado.

Análises

As análises mostraram que as taxas de diabetes e hipertensão eram menores entre os adultos que nasceram e completaram dois anos durante o período de racionamento de açúcar. Além disso, a gestação e a alimentação adequada das mães foram fundamentais para essa diminuição: o tempo em que o bebê permaneceu no útero contribuiu com cerca de um terço da redução do risco.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma dieta saudável deve incluir até 50 gramas de açúcar diariamente, o que representa 10% da ingestão total de um adulto. No entanto, os brasileiros consomem 50% mais açúcar do que o recomendado. Grande parte desse excesso provém dos açúcares adicionados e produtos processados e ultra-processados.

Dessa maneira, os cientistas apontam que o estudo deve estimular o debate público em torno de regulamentações mais rigorosas para alimentos açucarados direcionados a crianças, além de destacar a importância de uma alimentação saudável na primeira infância. Agora, a próxima etapa da pesquisa deve examinar como o consumo de açúcar nos primeiros anos de vida pode influenciar no risco de desenvolvimento de câncer.

Galileu

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