O vulcão subaquático Hunga Tonga-Hunga Haʻapai, no Oceano Pacífico, próximo à costa da Oceania, protagonizou uma das maiores erupções da história no dia 15 de janeiro de 2022. Ela desencadeou uma tempestade de raios, uma enorme coluna de fumaça e o primeiro mega tsunami desde a antiguidade. Apesar disso, a causa desse intenso evento permaneceu um mistério. Até agora.
Dois anos depois, uma pesquisa feita por especialistas da Universidade Nacional Australiana (ANU) parece ter finalmente encontrado o principal gatilho responsável pela erupção: uma rocha comprimida por uma grande quantidade de gás — que gerou um efeito “panela de pressão”. Os resultados foram publicados há duas semanas em um artigo na revista científica Geophysical Research Letters.
Nova hipótese para explicar a explosão
No passado, a hipótese mais forte sobre a explosão era de que ela foi causada pela interação do magma quente com a água fria do mar. Contudo, como explica Jinyin Hu, um dos colaboradores do novo projeto, em comunicado, “nosso modelo sugere que o evento resultou de uma rocha comprimida por gás que ficou presa sob um mar raso, como uma panela de pressão que ficou muito tempo no fogo”.
A técnica usada no estudo já havia sido empregada no estudo de outras explosões subterrâneas, e se baseia na avaliação de dados sísmicos da região afetada. Por meio de um modelo de computador que calcula forma das ondas de impacto, o grupo observou uma força vertical significativa apontando para cima durante o evento — algo inesperado.
“No início, ficamos confusos com esse comportamento anômalo”, relata Hrvoje Tkalčić, coautor da pesquisa. “Mas, então ,percebemos que a terra sólida havia ricocheteado para cima depois que a coluna de água foi elevada na erupção”.
Importância da documentação
A explosão gerou tsunamis com até 45 metros de altura, e se estima que o volume de água oceânica elevado seria suficiente para encher cerca de um milhão de piscinas olímpicas. “Neste evento. liberou-se energia equivalente a cinco das maiores explosões nucleares subterrâneas conduzidas pela Coreia do Norte em 2017”, destaca Hu.
Sabe-se que outro evento de tamanho semelhante aconteceu em 1991 em Pinatubo, nas Filipinas, contudo, naquela época os sistemas de monitoramento não eram sofisticados como são agora. A documentação da erupção de Tonga é o que a torna tão interessante para estudos.
“Algumas semanas atrás, vimos como a sismologia foi usada para explicar uma sequência extraordinária de eventos na Groenlândia, que incluiu um deslizamento de terra devido ao derretimento glacial, um tsunami e um seiche [deslocamento de material] com duração de nove dias”, diz Tkalčić. “Com Hunga Tonga, temos um evento explosivo de duração relativamente curta observado globalmente por satélites e sensores”.
Por meio do exemplo de Hunga Tonga-Hunga Haʻapai, os especialistas da ANU acreditam que monitorar a liberação de gases e os abalos vulcânicos locais pode ajudar a se preparar melhor para eventos do tipo no futuro.