Em novembro de 2024, 68,62 milhões de consumidores estavam inadimplentes, o que representa 41,51% da população adulta do Brasil. Esse número aponta um aumento de 0,98% em relação a outubro e a segunda maior marca do ano, atrás apenas do volume registrado em abril, segundo levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Mas o que leva uma pessoa a se endividar? Boletos demais? Cartão de crédito no rotativo? Financiamento de automóvel? Para entender o comportamento financeiro dos brasileiros, o Banco Central está testando um modelo de inteligência artificial baseada em algoritmos que analisa o perfil de risco dos consumidores e aponta o que pode ser feito para reduzir o índice de inadimplência no país.
O projeto surgiu a partir de um estudo sobre endividamento, publicado pelo Banco Central em 2020, que logo depois virou uma métrica interna da autarquia. Segundo Luis Gustavo Mansur, chefe do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do Banco Central, a ideia é alimentar a IA com a base de dados interna do BC para ela indicar, percentualmente, quem são os brasileiros em risco de inadimplência.
Com uma assertividade média de 67%, o modelo está sendo desenvolvido em parceria com os pesquisadores de Ciência da Computação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
“Ao sabermos que determinada parte da população pode se tornar inadimplente, ainda que a gente não possa tomar alguma atitude individual, podemos pensar em políticas públicas mais amplas. Hoje, a gente tem pelo menos 14% da população considerada em risco, segundo dados de 2023. É um número preocupante”, afirma Mansur.
Apesar de ainda estar em teste, a IA já gerou quatro conclusões importantes para o BC sobre o risco de os brasileiros darem calote:
- O rotativo do cartão de crédito é o grande vilão dos consumidores;
- Outro ponto de atenção é gastar mais de 50% da renda para pagar todas as contas;
- Estar abaixo da linha da pobreza (renda domiciliar menor que R$ 665) também influi;
- Utilizar o rotativo do cartão de crédito, o cheque especial e financiamento pessoal ao mesmo tempo é um grande fator de risco.
Outros pontos também foram destacados pelos algoritmos: os homens costumam atrasar mais as contas, mas as mulheres têm maior comprometimento de renda. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de brasileiras que se autodeclaram chefes de família supera o de homens desde 2022.
De acordo com Mansur, uma nova pesquisa sobre endividamento deve ser publicada ainda este ano com os resultados produzidos pela IA. A expectativa do Banco Central é que, após a divulgação dos dados, o projeto possa ser expandido junto com a criação de políticas públicas voltadas à educação financeira.