
Em Sydney, na Austrália, um homem de 40 anos acaba de se tornar a primeira pessoa a viver por 100 dias com um coração de titânio no peito. Este é o período mais longo até hoje para alguém com essa tecnologia. O dispositivo foi instalado em novembro de 2024 e retirado em fevereiro de 2025. Por fim, o paciente passou pela sua tão aguardada cirurgia de transplante.
O hospital australiano St. Vincent liderou o projeto em parceria com a Universidade Monash e a empresa fabricante de equipamentos médicos BiVACOR. Esta empresa tem sede na Califórnia (EUA). De acordo com um comunicado divulgado nesta quarta-feira, 12 de março, o homem, que sofria de insuficiência cardíaca grave, não parece sofrer qualquer complicação devido ao coração mecânico. Ele se recupera bem das intervenções recentes.
A capacidade do dispositivo de sustentar o corpo do paciente por tanto tempo é celebrada como um sinal positivo. Indica que a tecnologia poderia oferecer uma opção de longo prazo para pessoas que sofrem de insuficiência cardíaca ou de outras condições similares. O aparelho continua em testes e ainda não foi aprovado para uso geral pelas autoridades.

Como o coração de titânio funciona
O BiVACOR Total Artificial Heart (TAH), como nomearam o dispositivo, tem uma única parte móvel e um rotor levitado. Dessa maneira, este rotor fica mantido no lugar por ímãs. A estrutura é composta por titânio, e ele não apresenta válvulas ou mancais mecânicos suscetíveis a desgaste.
Pequeno o suficiente para caber dentro de uma criança de 12 anos, ele pesa cerca de 650 gramas. Isso, vale lembrar, não é suficiente para que os pacientes sintam qualquer incômodo dentro de sua cavidade torácica.
Dessa maneira, o coração mecânico é capaz de bombear sangue para todo o corpo, em especial, para os pulmões. Sendo assim, substitui ambos os ventrículos existentes em um coração com insuficiência.
Ao jornal ABC, a equipe relata que toda a operação se alimenta por uma bateria externa recarregável. Ela se conecta ao coração por meio de um fio no peito. Dessa forma, estima-se que a bateria dura por volta de quatro horas. Nesse meio tempo, o usuário recebe um alerta para sinalizar que uma nova bateria é necessária.
Objetivos a longo prazo
Com o sucesso dos experimentos mais recentes, os cientistas estão otimistas. Eles acreditam que, em um futuro não tão distante, possam empregar o dispositivo para salvar ainda mais pessoas. O déficit na doação de órgãos, por vezes, leva os indivíduos a aguardarem por semanas, meses e, em alguns casos, anos na lista de espera.
Para Chris Hayward, pesquisador que colaborou com a iniciativa, o coração BiVACOR inaugurou “um jogo totalmente novo para transplantes cardíacos”. Ele afirma que “na próxima década, veremos o coração artificial se tornar a alternativa para pacientes que não podem esperar por um coração de doador ou quando um coração de doador simplesmente não está disponível”.
Desde o início dos testes, em julho de 2024, instalaram o aparelho em cinco pessoas. Apenas uma delas não conseguiu sobreviver ao tratamento, mas vale destacar que ela já estava diagnosticada com um quadro clínico terminal de complicações irreversíveis.
“Só precisamos fabricar mais dispositivos, essa é a única limitação no momento. Estamos aumentando a produção para que eles fiquem na prateleira, prontos e esperando”, aponta Daniel Timms, projetista do equipamento, ao ABC. Ele espera que, em dois ou três anos, o coração artificial não seja mais uma “novidade” e possa ser utilizado comumente em mais pessoas.
Cenário dos transplantes de coração no Brasil
O descompasso entre a necessidade de transplantes e o número de doadores é um problema mundial, que também pode ser observado no Brasil. Mesmo o país sendo considerado uma referência no setor, e o 2º maior transplantador do globo, atrás apenas dos EUA.
Conforme dados do Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde, ao longo de todo o ano de 2024, realizaram-se 443 transplantes de coração no país. Hoje, há 455 indivíduos na fila de espera por um coração. Destes, 302 são homens e 153 são mulheres, na maioria, com idades entre 50 e 64 anos.
No total, atualmente, 45.391 pessoas aguardam para ter algum de seus órgãos transplantados. Os rins (42.005) e o fígado (2.299) lideram o ranking de órgãos com a maior demanda.