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Ascensão de Michelle Bolsonaro na política causa desconforto dentro do PL e provoca turbulências no coração do bolsonarismo – Foto: Reuters / BBC News Brasil

“Meninas, levantem as mãos, nós somos a força delicada que vai transformar o mundo”, diz Michelle Bolsonaro a uma plateia bolsonarista atenta em Fortaleza, no Ceará.

“Nós somos maioria, e nós definimos uma eleição”, completou a ex-primeira-dama, no encontro realizado ao fim de novembro. Ela disse ter aceito uma missão para fazer “uma política limpa”, exortando as mulheres a se envolverem.

A BBC News Brasil acompanhou nas últimas semanas a movimentação de Michelle. Ela se consolida como uma importante liderança da direita após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ser preso. Isso ocorreu em meados de agosto, condenado a 27 anos e três meses em regime fechado, por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes.

A ida da ex-primeira-dama ao Ceará desatou uma crise dentro do PL. Isso aconteceu após Michelle se opor a uma aliança do partido com Ciro Gomes no Estado. Este é um exemplo de como a ex-secretária parlamentar e mãe de duas filhas ganhou projeção política. Ela se tornou uma figura central para os rumos da direita em 2026.

Possibilidades

Michelle tem articulado candidaturas conservadoras em diferentes Estados. A menos de um ano das eleições, ela ganhou destaque em pesquisas de intenção de voto como opção competitiva para enfrentar o presidente Lula em outubro.

Políticos bem como analistas a colocam como maior liderança feminina da política brasileira hoje. E sua força, dizem, vem de sua autenticidade como líder conservadora cristã.

“Isso tem uma força política enorme, ainda mais em razão do fato de ela ser esposa da maior liderança política da direita no país”, afirma o ex-deputado federal Deltan Dellangnol (Novo).

“Ela acaba, na minha visão, sendo a segunda grande maior liderança política da direita no nosso Brasil”, completa o ex-procurador da República. Ele coordenou a Operação Lava-Jato e foi cassado em 2023 por fraude contra a Lei da Ficha Limpa.

Controvérsias

Assim sendo, a ascensão de Michelle Bolsonaro na política causa desconforto dentro do PL e provoca turbulências no coração do bolsonarismo.

Dessa forma, sua crescente proeminência teria sido um dos fatores que precipitou o ex-presidente a apontar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como seu candidato ao Palácio do Planalto. Isso aconteceu no início de dezembro.

Na terça-feira (23/12), Jair Bolsonaro deverá conceder sua primeira entrevista desde que foi preso ao portal Metrópoles. É grande a expectativa para que ele comente a disputa entre Flávio, Michelle e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Assim, todos buscam sua benção para as eleições de 2026.

Mas como uma primeira-dama discreta chegou a essa posição de liderança na direita brasileira?

Da Ceilândia ao Palácio do Planalto

Nascida na Ceilândia, região pobre do Distrito Federal, Michelle é filha de uma dona de casa bem como de um motorista de ônibus aposentado.

Ela começou a trabalhar logo depois do Ensino Médio: foi demonstradora de produtos em um supermercado e chegou a considerar a carreira de modelo — mas desistiu seguindo o conselho de uma colega da igreja.

Bolsonaro e Michelle se conheceram em 2007, quando ela tinha 25 anos e ele, 52.

Assim sendo, ela trabalhou como secretária nos gabinetes dos deputados federais Vanderlei Assis (PP-SP) e Dr. Ubiali (PSB-SP) e na liderança do PP.

Entretanto, quando o romance começou, Bolsonaro a contratou em seu gabinete e eles formalizaram a relação no mesmo ano. Seu salário cresceu rapidamente após o enlace.

Conforme reportagem da Folha de S.Paulo, a remuneração de Michelle chegou a R$ 8 mil, mais do que o triplo do que ela recebia no gabinete anterior. O valor equivaleria assim a mais de R$ 20 mil reais nos dias de hoje, feita a correção pela inflação.

Envolvimento com Bolsonaro

Michelle foi demitida de sua posição no gabinete de Bolsonaro em 2008, após o Supremo Tribunal Federal (STF) proibir contratações de parentes por deputados.

Depois disso, ela passou a se dedicar a atividades na igreja e a ações sociais, em especial com pessoas surdas. Tornou-se intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) e inclusive discursou nela na posse presidencial de Bolsonaro, em janeiro de 2019.

Os dois tiveram uma filha em 2010, Laura Bolsonaro, a segunda filha de Michelle. Ela já era mãe de Letícia Firmo, fruto do primeiro casamento da ex-primeira-dama com o engenheiro elétrico Marcos Santos da Silva.

Em 2020, suspeitas de corrupção da família Bolsonaro respingaram então na primeira-dama.

Dessa forma, foi revelado que ela recebeu na sua conta R$ 89 mil em cheques depositados por Fabrício Queiroz. Ele é amigo de Jair Bolsonaro e, além disso, foi acusado de operar um esquema de desvio de verbas no antigo gabinete de deputado estadual de Flávio Bolsonaro.

O caso está atualmente parado na Justiça, após o STF avaliar que houve ilegalidades nas investigações.

Bolsonaro disse à época que os cheques na conta da Michelle seriam para ele, como pagamento de um empréstimo. No entanto, nunca provou ter emprestado recursos para Queiroz.

Após o caso, a primeira-dama ganhou assim o apelido de “Micheque” nas redes socais.

A ascensão de Michelle

Durante a maior parte do mandato do marido, Michelle foi uma primeira-dama discreta e focada no público vulnerável, como surdos bem como portadores de doenças raras.

Entretanto, foi na campanha de 2022 que ela ampliou sua atuação política, tentando atrair mais votos femininos para Bolsonaro, que enfrentava resistência nesse eleitorado.

Enquanto isso, em março de 2023, ela assumiu a presidência do PL Mulher, cargo que lhe garante hoje salário de mais de R$ 40 mil.

Nessa função, passou assim a viajar o Brasil em jatinho particular para eventos da sigla, com objetivo de ampliar a participação feminina. Desde então, foram mais de 50 mil novas filiadas ao PL, crescimento acima da média dos demais partidos.

Opiniões

A pesquisadora Lilian Sendretti, do Núcleo de Democracia e Ação Coletiva (NDAC) do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), avalia que Michelle mudou radicalmente a forma do PL se comunicar com o público feminino.

“Mudou muito”, diz a cientista política. “Assim como a estética de comunicação do PL Mulher, além de ser mais incisivo, virou um ‘Michelismo’, tem Michelle Bolsonaro para todos os cantos”, afirma a pesquisadora.

A deputada federal Bia Kicis (PL-SP) avalia que Michelle também mudou com a experiência de liderar o PL Mulher.

“Ela foi ganhando muita confiança com esse trabalho à frente do PL e isso fez com que ela ousasse se posicionar mais. E ela se tornou uma figura muito querida”, diz Kicis.

A projeção política que Michelle construiu nos últimos três anos ganhou nova escala com a prisão do marido. Ele foi preso preventivamente desde agosto, mesmo antes da condenação por tentativa de golpe de Estado.

Com Bolsonaro em uma sala de Estado na superintendência da Polícia Federal em Brasília, ela se tornou uma das porta-vozes do marido. Ela fala ao lado dos filhos do ex-presidente.

Os ruídos criados por essa multiplicidade de vozes explodiram na crise do Ceará, em novembro.

A crise do Ceará

Oito dias após Jair Bolsonaro ser levado para sua cela especial na PF, Michelle foi recebida como estrela principal de evento em Fortaleza. O evento foi realizado num domingo (30/11), onde ela ganhou acolhimento caloroso do público.

Ao pegar o microfone, ela criticou o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e o presidente estadual do partido, deputado federal André Fernandes. Ela exaltou sua própria liderança no partido, como presidente do PL Mulher.

“Se o meu presidente [do PL, Valdemar Costa Neto] apoia outro candidato, é ele, ele não me representa, ele não fala por mim, eu sou presidente [do PL Mulher], tenho autonomia do meu movimento feminino que se tornou o maior da história”, disse, no evento.

Depois, Michelle lembrou diversos ataques de Ciro Gomes a seu marido. Ele, inclusive, celebrou a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que tornou Bolsonaro inelegível, após uma ação proposta pelo seu antigo partido, o PDT.

“É sobre isso. É sobre essa aliança que vocês se precipitaram em fazer”, continuou.

Depois do episódio, os três filhos mais velhos do ex-presidente – Flavio, Eduardo e Carlos – disseram que a fala de Michelle foi autoritária. Ela contrariou a orientação do próprio Bolsonaro, segundo eles.

A ex-primeira-dama ganhou a disputa e o PL suspendeu a negociação com Ciro Gomes.

No entanto, dias depois, Flávio Bolsonaro foi anunciado como o escolhido por Jair para enfrentar Lula em 2026. Analistas políticos consideraram isso como um ato público de desautorização de Michelle.

O futuro de Michelle

Segundo pesquisa Ipsos Ipec do início de dezembro, a ex-primeira-dama aparece com 23% de intenção de voto no primeiro turno, contra 38% de Lula.

Nos outros cenários testados, Flávio Bolsonaro aparece com 19%. E o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, com 17%.

“Descartar a Michelle é descartar a única possibilidade de se manter o legado de Bolsonaro vivo”, considera o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ).

“Ela tem algo que na política se conta muito. Ela tem credibilidade”, completa.

Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara e alvo de operação da PF na sexta-feira (19/12), diz que o destino político de Michele deverá ser definido no próximo ano.

“Se senadora, se presidente, vice-presidente”, enumerou Sóstenes, em entrevista a BBC News Brasil concedida antes da operação da PF.

Michelle, porém, não é consenso nem dentro do bolsonarismo.

Um político do PL disse reservadamente à BBC News Brasil que o episódio do Ceará implodiu a possibilidade de ela entrar em uma chapa presidencial em 2026.

Para o diretor de análise política da AtlasIntel, Yuri Sanches, um dos desafios para uma candidatura presidencial da ex-primeira-dama é o interesse de partidos da direita e do Centrão em eleger alguém que não seja da família Bolsonaro.

“Essa eleição se torna crucial para retirar, de certa forma, uma dependência que a direita brasileira tem do bolsonarismo pra ter um sucesso eleitoral”, diz Sanches.

“Então é uma eleição em que se abre uma janela para a direita brasileira de, ao mesmo tempo que eles tentam e precisam dialogar com a base eleitoral de Jair Bolsonaro e criar uma relação favorável e eficaz, eles também estão olhando essa independência, essa construção de uma autonomia”, completa o analista.

Na entrevista de Bolsonaro nesta terça-feira, apoiadores e críticos de Michelle deverão buscar pistas do futuro da ex-primeira-dama, que entrará em 2026 ainda indefinido.

Terra

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