Um dos maiores ídolos e símbolos do Flamengo, Adílio foi velado na manhã desta terça-feira por figuras importantes e torcedores na sede social do clube, na Gávea. Adílio, que tinha 68 anos, não resistiu a um câncer no pâncreas. Ele deixou três filhos – Sonny, Adílio Filho e Bruna – e a esposa Sônia.

Vários ex-jogadores do Flamengo compareceram ao velório, realizado em um dos ginásios do clube. Andrade, amigo e companheiro de meio de campo durante a maioria dos títulos conquistados, chegou logo cedo. Os ex-jogadores do Fla Mozer, Zinho, Raul Plassmann, Jayme, Gilmar Popoca, Jônatas, Nélio, Douglas Silva, Piá e Carlos Alberto (lateral-direito) também estavam presentes.

– É duro, doído, 68 anos, tinha muita coisa pela frente. Você nunca está preparado para a perda de um irmão. Sabemos que a morte é inevitável, mas nunca estamos preparados – disse Andrade, bastante emocionado.

Andrade no velório de Adílio, na sede do Flamengo, na Gávea — Foto: Fred Gomes / ge

Maior ídolo da história do Flamengo, Zico relembrou a parceria com Adílio dentro e fora dos gramados, destacando como a vitoriosa geração rubro-negra no início dos anos 1980 se conhecia “de olho fechado”.

– (Ficam) o sorriso, as brincadeiras, as tiradas, as histórias bem contadas. Foram muitos e muitos anos de amizade, não só aquele período que nós jogamos juntos. É aquele irmão que não é de sangue, mas faz parte da família da gente – disse Zico, acrescentando:

– Foi uma situação que a gente sabia que era grave, vinha falando com ele. O Adílio não gostava de incomodar ninguém, falar dos problemas dele, tínhamos que correr atrás pra ajudá-lo. É doloroso pra todos quando perdemos uma pessoa tão ligada a nós. (…) Ele me deixava na cara do gol toda hora, né? E aí a brincadeira era essa. Eu falava “por que você não deu para os outros?”, aí ele respondia “é para você porque eu sei que vou dar e me consagrar” (risos). De olho fechado, sabíamos o que o outro ia fazer dentro do campo. O Brown era um cara sensacional, espetacular.

Conhecido como o “artilheiro das decisões”, Nunes foi à Gávea se despedir do antigo companheiro Adílio. O ex-atacante marcou dois dos três gols da final do Mundial de 1981 contra o Liverpool; o camisa 8 fez o outro. Nunes foi visto conversando com Jayme de Almeida, ex-jogador do Flamengo e campeão da Copa do Brasil de 2013 como técnico.

Zico no velório de Adílio — Foto: Fred Gomes/ge

Outro grande companheiro de Adílio e ídolo do Flamengo a marcar presença foi o “Maestro” Júnior. Ubirajara, primeiro goleiro a marcar um gol pelo Flamengo, também foi à cerimônia.

Tetracampeão do mundo com a seleção brasileira e campeão brasileiro pelo Flamengo em 1987, Bebeto foi às lágrimas na cerimônia. Quem também se emocionou muito foi Leandro, o “Peixe Frito”. O maior lateral-direito da história do clube se aproximou do caixão e deu um beijo no amigo; Zinho fez o mesmo gesto.

Autor do histórico gol contra o Vasco em 2001, que garantiu o tricampeonato do Flamengo no Carioca, Petkovic foi visto no velório conversando com o ex-lateral Maurinho. Juan, ex-zagueiro e ex-gerente técnico do Rubro-Negro, também marcou presença.

O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, foi um dos presentes no velório de Adílio na Gávea, no ginásio Hélio Maurício. Os ex-presidentes rubro-negros Eduardo Bandeira de Mello e Márcio Braga também foram à cerimônia.

Jogadores que foram rivais dentro de campo de Adílio também foram homenageá-lo na Gávea. Delei, ex-meia do Fluminense nos anos 1980, foi um deles. Branco, campeão da Copa do Mundo de 1994 e também ex-jogador do Fluminense, foi outro.

As homenagens não ficaram restritas a ex-jogadores de futebol, se estendendo também para representantes de outras modalidades. Dois dos técnicos mais vitoriosos do basquete do Flamengo, Paulo Chupeta e José Neto foram ao velório de Adílio.

Zinho no velório de Adílio, na sede do Flamengo, na Gávea — Foto: Fred Gomes / ge

A trajetória de Adílio no Flamengo

Nascido em 15 de maio de 1956, Adílio de Oliveira Gonçalves estreou nos profissionais do Flamengo em 27 de abril de 1975, quando tinha apenas 18 anos. O “Brown”, como era chamado por seus companheiros por causa da adoração ao cantor americano James Brown, vestiu a camisa rubro-negra até 1987 e marcou 129 gols, tornando-se o 14º maior artilheiro do clube com 129 gols.

Marcou na final do Mundial Interclubes e nas decisões do Carioca de 1981, contra o Vasco, e do Brasileiro de 1983, diante do Santos. O inédito pentacampeonato da Taça Guanabara, em 82, também em duelo com os vascaínos, foi conquistado com um gol do eterno camisa 8, nos minutos finais do jogo.

Com a camisa rubro-negra, ele conquistou cinco Cariocas (1978, 1979 duas vezes, 1981 e 1986), três Brasileiros (1980, 1982 e 1983), uma Libertadores e um Mundial de Clubes (ambos em 1981), com direito a gol nas finais do Mundial, contra o Liverpool, da Inglaterra; do Brasileiro de 1983, diante do Santos, e no Carioca de 1981, contra o Vasco. Em 2019, o Flamengo homenageou o ídolo com um busto, esculpido pelo artista Eduardo Santos, em sua sede na Gávea.

Além do Flamengo, jogou também por Coritiba, Barcelona de Guayaquil (Equador), Alianza Lima (Peru) e, no fim da carreira, por clubes do interior do Rio de Janeiro, como América de Três Rios, Friburguense e Barreira.

Após encerrar a carreira nos gramados, Adílio também fez sucesso como jogador de futsal, atuando como ala-pivô, e foi campeão do Mundial de Futsal pelo Brasil em 1989. Também chegou a trabalhar como treinador em equipes de base do Flamengo e foi tricampeão carioca sub-20 em 2005, 2006 e 2007. O ídolo nunca se desligou do clube do coração e nos últimos anos era o líder do Fla Master, que faz partidas por todo o país.

GE

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