
Cerca de 23 milhões de brasileiros apostaram em bets, como popularmente são conhecidas as apostas esportivas on-line, em 2024. O número, equivalente a 15% dos brasileiros, é muito maior do que o de investidores de boa parte dos produtos financeiros, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs, comprados por 10 milhões de pessoas) e fundos de investimentos (comprados por 9 milhões de pessoas).
Ainda, os apostadores são um grupo maior do que o de investidores de criptomoedas (comprados por 6 milhões de pessoas) e de ações (comprados por 5 milhões de pessoas). Os dados são da oitava edição do estudo Raio X do Investidor Brasileiro, feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e pelo Datafolha, divulgado ontem, 29 de abril.
Apostadores
O estudo investigou também quem são os apostadores de bets no Brasil. A maioria se identifica como homem da geração Z (de 16 a 28 anos) e eles são de diferentes classes sociais. Na classe C, 17% são apostadores de bets, enquanto essa fatia é de 16% na classe A/B e de 10% na classe D/E. “A avaliação de que as bets estão relacionadas às classes baixas não é real”, afirmou Marcelo Billi, superintendente de sustentabilidade, inovação e educação da Anbima, no evento de apresentação de estudo, realizado ontem.
Os apostadores gastam, em média, R$ 216 mensais nas bets, aponta o levantamento. Quase metade (47%) dos apostadores está em atraso com as dívidas. Ainda, cerca de 3 milhões (10%) de pessoas têm alta tendência ao vício nessas apostas. “As bets não são um problema do mundo de investimentos, mas são um problema de saúde pública”, disse Billi.
Vício
Contudo, mais da metade (59%) dos apostadores de bets estão no nível de vício mais baixo, evidenciando que a prática nem sempre pode se associar a comportamentos compulsivos. Os brasileiros com maior tendência ao vício em apostas desembolsaram em média R$ 684 mensais com as bets, cerca de três vezes mais do que a média de R$ 216. Sete em cada dez pessoas desse grupo apostaram uma ou mais vezes por semana.
Cerca de 35% das pessoas com tendência ao vício em apostas investem em produtos financeiros, aponta o estudo. Ainda, 82% planejam realizar algum investimento em 2025. Contudo, 63% estão com atraso nas dívidas e 71% possuem nível alto de estresse financeiro. Os números sugerem uma situação complexa, com esses brasileiros com intenções de melhorar a gestão financeira, mas com desafios para alcançar esse objetivo.
Entre os apostadores de bets em 2024, 52% tentaram recuperar as perdas apostando de novo. Ainda, quatro em cada dez apostadores mencionam sentir culpa de apostar, e 30% dessas pessoas admitem terem apostado mais dinheiro do que poderiam perder. Uma proporção semelhante relata ter recebido críticas de amigos e familiares por causa dos problemas que o jogo causou. Além disso, 10% já precisaram recorrer à venda de bens ou a empréstimos para seguir apostando. “As bets desorganizam a saúde mental e financeira”, afirmou Billi.
Apostas são investimento? Não, mas um grupo acha que é
Entre os apostadores de bets, 4 milhões consideram que as apostas são investimentos, o que não é verdade. Contudo, a fatia da população que acha que as apostas são investimentos recuou de 22% em 2023 para 16% em 2024, mostra o levantamento.
Apenas 43% dos apostadores investem também em produtos financeiros. Porém, proporcionalmente, há mais apostadores entre os brasileiros investidores (17%) do que entre os não investidores (13%). Os brasileiros que diversificam os investimentos em mais de um produto financeiro apostam 60% a mais do que a média da população. Já os brasileiros que menos apostam são os que investem somente na poupança.
Por que as apostas em bets não são investimento?
As apostas em bets são palpites que os apostadores fazem em eventos variados. Para vencer, é necessário acertar a aposta. Caso contrário, o dinheiros se perde. Assim, as bets são uma brincadeira que pode gerar dinheiro se o apostador contar com a sorte. Mesmo legalizadas, são arriscadas.
As apostas on-line se popularizaram significativamente nos últimos anos, desde que foram descriminalizadas em 2018 (pela Lei 13.756) e legalizadas em 2023 (pela Lei 14.790). A regulamentação vigora desde o começo deste ano, mas causou polêmicas. Apesar de regulamentarem as apostas, elas causam danos à sociedade. O vício é o pior deles.
Os especialistas afirmam que as apostas não são investimentos, e sim jogos ou brincadeiras. As apostas são diferentes dos investimentos porque, nas bets, o ganho pode ser muito alto, mas a chance de ganho é menor do que a de perda, por uma questão de probabilidade. Já nos investimentos, se espera um ganho, mesmo que seja em um prazo longo. E esse ganho pode se estimar, não é aleatório.
Com o acesso às bets mais facilitado, muitas pessoas apostam como uma forma de tentar resolver suas emergências financeiras. Contudo, além de ser arriscado devido ao risco de perdas, isso levanta preocupações sobre uma potencial epidemia de ludopatia, o vício em jogos de azar, quando as apostas causam danos às finanças, aos relacionamentos e à saúde mental e física do apostador.
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