O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) completa cem dias em prisão domiciliar nesta quarta-feira, 12 de novembro. Há temor de transferência para um presídio para cumprir pena enquanto enfrenta um enfraquecimento político.
Os últimos meses foram marcados por disputas e brigas internas no seu grupo político. Houve o racha do centrão com a direita no episódio do tarifaço imposto por Donald Trump, tendo Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como protagonista. Também houve crise em Santa Catarina pela vaga ao Senado para 2026, envolvendo outro filho do ex-presidente, Carlos Bolsonaro (PL-RJ).
Em entrevista à Folha no final de março, Bolsonaro disse que a prisão significaria o fim não apenas da sua carreira política, mas de sua vida. À época, ele ainda estava solto, ativo pelo partido, com viagens pelo país. Seu argumento passava pelo fato de ele ter 70 anos e de a acusação ter crimes que somavam décadas de pena.
Agora, ele enfrenta a possibilidade real de ir para a Papuda, presídio em Brasília. Ele cumpriria pena pela condenação a 27 anos e três meses por liderar a trama golpista de 2022.
O primeiro recurso de Bolsonaro foi rejeitado pelos votos dos quatro integrantes da Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal). Isso ocorreu em julgamento no plenário virtual que será encerrado oficialmente na sexta, 14 de novembro. A defesa deve tentar novos recursos. No entanto, a expectativa é de que a corte considere a ação encerrada até dezembro.
Dia a dia de Bolsonaro
Integrantes da família Bolsonaro têm dito a aliados que ele está apreensivo com a possibilidade de ter de cumprir pena em regime fechado. A decisão caberá ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
O ex-presidente já fez piadas com visitantes e tem mantido rotina de exercícios físicos. Mas há relatos também de um Bolsonaro cabisbaixo, que passa o dia de bermuda e chinelo e se refere à tornozeleira eletrônica como humilhação. Seus amigos veem relação direta da piora no quadro de saúde com a sua condição emocional diante da proximidade da palavra final do STF.
Renato Bolsonaro, seu irmão, disse na última sexta, 7 de novembro, que, se o ex-presidente for mandado para a Papuda, é porque a Justiça quer que ele morra na cadeia.
Hoje parte dos interlocutores de Bolsonaro já admite a possibilidade de o STF encaminhá-lo, ao menos por um curto período, para a Papuda. Depois, por questões de saúde, ele voltaria para a domiciliar. Essa tese ganhou força após visita recente da chefe de gabinete de Moraes ao presídio.
Alternativas
Outra possibilidade seria a ida de Bolsonaro para uma sala na superintendência da Polícia Federal, assim como ocorreu com Lula (PT) em Curitiba. A hipótese de o transferirem para uma instalação militar se considera a menos provável, apesar de ele ser capitão.
Se efetivarem a transferência de Bolsonaro para o regime fechado, a expectativa é de mobilização restrita de apoiadores. Não houve nenhuma organização nesse sentido até o momento. Isso ocorre diante da dificuldade de articulação do grupo com o líder preso e da disputa por seu espólio eleitoral.
Alianças turbulentas
A permanência de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos se tornou um fator de instabilidade para o grupo. De lá, ele reforça críticas a aliados, em especial a governadores de direita, como Tarcísio de Freitas (Republicanos). Além disso, ele radicaliza o discurso e ameaça se lançar à Presidência, mesmo que à distância.
Outro alvo frequente do deputado é o presidente do PP e senador Ciro Nogueira (PI), com quem vez ou outra tem discussões públicas.
O centrão e alas do PL defendem que Bolsonaro anuncie ainda neste ano um sucessor para concorrer pela direita ao Palácio do Planalto.
Os filhos do ex-presidente, no entanto, têm se insurgido contra os que buscam já falar abertamente de eleição sem Bolsonaro. Afinal, além de preso, ele está inelegível. A ex-primeira-dama e Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disseram nos últimos dias que o ex-presidente é o candidato em 2026.
Futuro politico
Alguns interlocutores buscam apaziguar os ânimos dos dois lados: pedem para a direita se unir e para segurar a briga para 2027. Eles também minimizam as discussões públicas, dizendo que só ocorrem porque a divergência é permitida no PL.
Na prática, os rachas vão se espalhando onde há opiniões que não coincidem completamente com as do clã. Em Santa Catarina, um dos estados mais bolsonaristas do país, ocorre o mais recente foco de crise do grupo político.
O vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL) pretende se lançar candidato ao Senado por Santa Catarina, por determinação do pai. Isso porque se acredita que o filho ficará mais protegido do Judiciário dessa forma. Parte da direita se ressentiu diante do movimento, cuja consequência foi barrar outra pré-candidata ao Senado, a deputada Carol de Toni (PL-SC). As acusações de infidelidade e traições foram em direção à deputada estadual e sua amiga Ana Campagnolo (PL-SC).
Força de Lula
A turma do deixa-disso diz que as brigas internas ajudam Lula, que já melhorou nas pesquisas e é o nome mais forte para 2026. Quando prenderam Bolsonaro, em agosto, o petista não estava tão bem posicionado nas pesquisas.
No último mês, Lula ainda se aproximou de Trump, até então alinhado aos bolsonaristas. Isso ocorreu para abrir negociação sobre as tarifas impostas a produtos brasileiros. O discurso de soberania e de defesa do Brasil se vê como um trunfo pelo Palácio do Planalto. Porque custou boa parte da popularidade do bolsonarismo.