Nos EUA, estima-se que pelo menos 4.3 milhões de pessoas com 55 anos ou mais apresentam um quadro de demência e vivem sós — Foto: Margit Winkler para Pixabay

Há cerca de dez anos, a socióloga Elena Portacolone, professora da Universidade da Califórnia em San Francisco, surpreendeu-se ao iniciar um projeto de pesquisa com idosos: apesar de sempre marcar as entrevistas com antecedência, era comum que as pessoas que visitava não se lembrassem do compromisso. Estava claro que elas enfrentavam algum tipo de declínio cognitivo, mas, ainda assim, moravam sozinhas.

Graças à descoberta, Portacolone lidera um projeto da universidade voltado para esse grupo. Nos Estados Unidos, estima-se que pelo menos 4.3 milhões de pessoas com 55 anos ou mais apresentam um quadro de demência e vivem sós. Elas representam 25% do total de indivíduos com comprometimento cognitivo. Metade tem dificuldades para realizar atividades diárias, como tomar banho, se alimentar, fazer compras ou lidar com dinheiro, mas apenas um em cada três recebe ajuda.

Perguntas

A equipe da professora vem acompanhando cerca de cem idosos com demência que vivem sozinhos, listando suas maiores preocupações: em quem confiar? Quando terei um próximo episódio de esquecimento? Se achar que preciso de auxílio, a quem recorrer? Como camuflar minha condição? Seu trabalho foi retratado em reportagem da jornalista Judith Graham, da KFF Health News, e me levou a refletir sobre qual seria esse número no Brasil – talvez um vizinho de porta…

Conforme a pesquisadora, trata-se de uma “população invisível”: “o sistema de saúde parte do princípio de que todo idoso tem algum tipo de assistência familiar ou cuidador, o que não é verdade. O resultado é que essas pessoas ficam numa espécie de limbo”. Explica que, com o raciocínio e a memória em processo de deterioração, aumenta o risco de isolamento, de autonegligência e até de desnutrição.

O National Council of Dementia Minds (Conselho Nacional de Mentes com Demência) criou, em 2023, um grupo on-line com participantes nessa situação, como Kathleen Healy, de 60 anos, que afirmou: “minha casa pode estar um caos, ou eu estar doente e ter esquecido de pagar meus boletos, mas se ainda consigo sair, ninguém sabe o que está acontecendo comigo”. Ela foi funcionária da prefeitura da cidade de Fresno, na Califórnia, por 28 anos. Aposentou-se em 2019 porque, na sua avaliação, “o cérebro não funcionava mais”. Felizmente, tem uma pensão que cobre suas despesas, mas não conta com ninguém da família – sua irmã já tem a incumbência de cuidar da mãe, de 83 anos, que tem demência e mora com ela.

G1

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Explore a nossa loja e encontre o que deseja com preços especiais. Confira as ofertas!