
Os momentos finais de uma família que morreu dentro de casa durante a erupção do vulcão Vesúvio, que devastou a cidade de Pompeia, na Itália, em 79 d.C., foram revelados por uma pesquisa. A publicaram na última semana na revista científica E-Journal Scavi di Pompei.
Em uma tentativa desesperada de salvarem suas vidas, os familiares colocaram uma cama de lado para bloquear a porta de um dos quartos. Porém, não foi o bastante para evitar o fluxo violento de cinzas escaldantes que preencheu todos os cômodos da residência.
Após identificarem vazios na cinza solidificada pela decomposição da madeira da casa, os pesquisadores fizeram o molde da cama utilizada como barricada. O gesso foi vertido nos espaços, reconstruindo a forma do móvel preservado nas cinzas.
Durante a escavação, os especialistas encontraram os restos mortais de ao menos quatro indivíduos. Entre eles, estavam os de uma criança carregando um amuleto de bronze que os meninos usavam até atingirem a idade adulta.

Conforme conta em comunicado o diretor do Parque Arqueológico de Pompeia, Gabriel Zuchtriegel, pela abertura do teto da casa havia restos das pedras vulcânicas. Elas ameaçavam invadir o espaço. “Os terremotos já haviam feito muitos edifícios ruírem antes”, observa o especialista. Ele destaca que um “inferno atingiu esta cidade em 24 de agosto de 79 d.C., cujas marcas ainda encontramos hoje”.
História mitológica
O local onde ocorreu a morte da família se chama hoje de casa de “Frixo e Helle”. Isso é em alusão a uma pintura mitológica encontrada em um dos quartos. A obra de arte fica na parede da sala de banquetes. Ela representa Frixo, um personagem da mitologia grega, montado em um carneiro, e sua irmã Helle, pouco antes de seu afogamento.
Conforme o mito, Helle e Frixo escaparam da perseguição de Ino voando nas costas de um carneiro. Porém, durante a travessia, Helle caiu no mar. “No afresco, se representa o momento trágico da morte da jovem, enquanto ela estende a mão ao irmão pedindo ajuda”, conforme o Parque Arqueológico de Pompeia.

No século 1 d.C, ainda que essas histórias não tivessem o mesmo peso religioso e cultural da era arcaica e clássica, é provável que sua função nas casas fosse principalmente decorativa. Isso ocorria na classe média e alta, de acordo com a instituição.
Artefatos encontrados
Dentro da casa, os pesquisadores também descobriram um tanque para coleta de água e até mesmo um cômodo com abertura central para passagem da água da chuva. Por lá, podem ter entrado fragmentos de pedra do Vesúvio, que caíam como chuva durante as primeiras fases da erupção.
Outros achados são um depósito de vasos, armazenados sob uma escada que servia de despensa. Ali guardavam, entre outros itens, molho de peixe. Também havia um conjunto de utensílios, todos feitos de bronze: uma concha, uma jarra com uma alça, um vaso tipo cesto. E ainda, uma taça em forma de concha.
Os especialistas acreditam que a ausência de alguns elementos, como soleiras, decoração em certos lugares e cortes em partes da alvenaria na entrada da casa, sugerem que o local passava por reformas no momento da erupção. No entanto, lá havia ainda moradores, que preferiram não abandonar sua moradia no momento do desastre — e acabaram mortos.