A população brasileira sente a alta dos preços dos alimentos. Preços altos em supermercados – Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo

Se o preço dos alimentos tem sido tema central da crise do governo, os dados da inflação (IPCA) de fevereiro, divulgados nesta quarta-feira, 12 de março, mostram que o assunto deve continuar em pauta. Isso porque o IPCA voltou a acelerar no mês, sendo o maior para o período desde 2003, com alta puxada por educação, habitação, transporte e alimentos e bebidas. No entanto, há uma “inflação invisível” que não é calculada, mas que faz essa alta se intensificar no bolso dos brasileiros: a reduflação.

Em fevereiro, no grupo Alimentação e bebidas, a alta foi de 0,70%. A alimentação no domicílio subiu 0,79% em fevereiro e mostrou uma desaceleração em relação a janeiro, quando subiu 1,07%. Os destaques foram as altas do ovo de galinha (que subiu 15,39%) e do café moído (que aumentou 10,77%). Em contrapartida, no lado das quedas, a batata-inglesa barateou 4,10%, o arroz caiu 1,61% e o leite longa vida teve recuo de 1,04%.

O termo “reduflação” pode parecer complicado, mas define a diminuição do tamanho ou quantidade de produtos, com preços se mantendo inalterados ou com leve aumento. Em resumo, o consumidor continua pagando o mesmo valor (ou até mais caro) por um produto menor, ou seja, que rende menos.

Renan Pieri, professor de economia da FGV EAESP, explica que reduflação não é um conceito acadêmico de ciências econômicas, mas é uma estratégia de mercado, usada principalmente no varejo, para lidar com possíveis aumentos de custos que deveriam virar aumentos de preços.

“Ao invés de subir os preços no momento em que a inflação e os preços estão subindo, algumas empresas optam por reduzir o tamanho ou a quantidade do produto na apresentação dele para o consumidor”, explica.

Como isso pesa no bolso?

O resultado da reduflação é o consumidor pagando o mesmo valor ou mais por menos produto, o que reduz o poder de compra, comenta Alcyr de Castro Silva Neto, gerente de projetos do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).

“É uma constatação econômica que ocorre quando os consumidores perdem poder de compra devido à redução do conteúdo da embalagem de determinado produto. O termo, originado nos Estados Unidos e cunhado como “shrinkflation”, combina as palavras “encolher” e “inflação”, explica Neto.

Além disso, explica Neto, a reduflação também pode ser vista como uma forma de mascarar a inflação, já que, em alguns casos, o preço dos produtos permanece o mesmo, mas a quantidade diminui. Na avaliação do especialista, este cenário impacta especialmente famílias de menor renda, já que altera itens da cesta básica.

“Há ainda a questão matemática de como a indústria comunica a reduflação, pois pelas normas atuais, o fabricante é obrigado a publicitar o percentual da redução, que é muito diferente do impacto financeiro caso o consumidor quisesse levar a quantidade original do produto. Redução de 20%, impacto de 25%. Redução de 10%, impacto de 12,5%”, exemplifica.

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