
Segundo a organização, a melhora no Brasil reflete a normalização das relações entre órgãos do Estado e a imprensa. Isso ocorreu após a posse do terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi “em contraste com o período anterior, marcado por hostilidade permanente do governo Jair Bolsonaro contra jornalistas”.
Apesar do avanço, persistem desafios: violência estrutural contra profissionais, concentração privada no setor de mídia e o peso da desinformação. A desinformação continua a intoxicar o debate público no Brasil, observa a Repórteres Sem Fronteiras.
O relatório destaca ainda que nos últimos dez anos, assassinaram ao menos 30 jornalistas no Brasil. Em 2022, três assassinatos estiveram diretamente ligados à prática jornalística. Isso inclui o do britânico Dom Phillips, morto na Amazônia enquanto investigava crimes ambientais em terras indígenas.
‘Maior prisão aberta de jornalistas no mundo’
Ainda segundo o documento, na antepenúltima posição do ranking, ultrapassada apenas pela Coreia do Norte e pela Eritreia, a China seria a “maior prisão aberta de jornalistas no mundo”. Nela, 121 profissionais estão detidos num total de 503 em todo o planeta.
Em dados globais, o relatório revela que Israel responde por mais de 43% dos assassinatos de jornalistas na Faixa de Gaza. No mundo, o cenário é alarmante: mataram 67 jornalistas desde dezembro de 2024. Quase 80% das mortes ocorreram por forças armadas ou por redes ligadas ao crime organizado.
Na América Latina, o México é hoje o primeiro país mais perigoso para jornalistas, com nove mortes só em 2025.
Nas primeiras posições do ranking da RSF, encontram-se respectivamente a Noruega, a Estônia e a Holanda. Esses se consideram os países mais seguros do mundo para exercer a profissão de jornalista.
Quando jornalistas se tornam alvos
“O número de jornalistas mortos (de 1º de dezembro de 2024 a 1º de dezembro de 2025) voltou a subir. Isso se deve às práticas criminosas de forças armadas regulares ou não e do crime organizado”, lamenta a entidade de defesa da liberdade de imprensa. Eles reforçam: “Os jornalistas não morrem, eles são mortos”.
Seis dias após a condenação do jornalista francês Christophe Gleizes a sete anos de prisão em segunda instância na Argélia por apologia ao terrorismo, a RSF também informa que 503 jornalistas estão presos atualmente em 47 países. Destes, 121 estão na China, 48 na Rússia, 47 em Mianmar. A organização contabiliza ainda 135 jornalistas desaparecidos, alguns há mais de 30 anos. Além disso, há 20 jornalistas mantidos como reféns, principalmente na Síria e no Iêmen.
Em 2023, a RSF havia registrado 49 jornalistas mortos, um dos números mais baixos das últimas duas décadas. No entanto, a guerra conduzida por Israel na Faixa de Gaza desde os ataques do Hamas, em 7 de outubro de 2023, fez esse número disparar. Morreram 66 em 2024 e 67 em 2025.
“É isso que provoca o ódio aos jornalistas, é isso que provoca a impunidade”, declarou Anne Bocandé, diretora editorial da RSF. “Hoje existe um verdadeiro desafio: que os governos se comprometam com a proteção dos jornalistas e não os transformem em alvos”, acrescentou.
Com pelo menos 29 profissionais de mídia mortos nos últimos 12 meses no território palestino enquanto trabalhavam, a situação é preocupante. Cerca de 220 morreram desde outubro de 2023, incluindo aqueles mortos fora do exercício da profissão. “O exército israelense é o pior inimigo dos jornalistas”, acusa a RSF.
“Não são balas perdidas”
Embora devam proteger jornalistas como civis em zonas de conflito, acusam o exército israelense repetidamente de mirar deliberadamente profissionais da imprensa. Já enfrenta denúncias por crimes de guerra. Israel justifica dizendo que ataca o Hamas, classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
O exército israelense chegou a admitir ter alvejado um famoso correspondente da emissora Al-Jazeera, Anas al-Sharif. Ele foi morto junto com outros cinco profissionais em um bombardeio em agosto. O exército alegou que ele era “terrorista” disfarçado de jornalista — acusações sem provas, rebateu a RSF.
“Não se trata de balas perdidas. É, de fato, um alvo deliberado contra jornalistas porque eles informam o mundo sobre o que acontece nesses territórios”, denuncia Bocandé.
A RSF também lamenta que 2025 tenha sido o ano mais letal para jornalistas no México em pelo menos três anos, com nove mortos. Isso ocorreu “apesar dos compromissos” assumidos pela presidente Claudia Sheinbaum. As vítimas cobriam política local, denunciavam o crime organizado e seus vínculos com autoridades. Haviam recebido ameaças explícitas.
A Ucrânia teve três jornalistas mortos, incluindo o fotojornalista francês Antoni Lallican. Além disso, o Sudão contou com quatro mortos. Esses países também figuram entre os mais trágicos, segundo a RSF.
Outras organizações apresentam números diferentes devido a metodologias distintas. A Unesco, por exemplo, contabiliza 91 jornalistas mortos no mundo em 2025.