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Letreiro do Eny’s Bar em 2025 — Foto: Paulo Piassi/g1

Uma área de 12 mil m² com 40 dormitórios, duas suítes, restaurante, bar, cozinha, muitos banheiros, sala, piscina e um jardim de rosas cuidadosamente regado por Eny Cezarino atraiu senadores, celebridades, empresários e turistas a Bauru (SP) entre as décadas de 1950 e 1980.

Com um letreiro neon que podiam ver de longe, o Restaurante Eny’s Bar, localizado no trevo da entrada da maior cidade do centro-oeste paulista, chegou a ter mais de 70 prostitutas. Elas viviam no local no auge da fama. O bordel, que era conhecido por ter o “buquê” de mulheres mais bonito do Brasil, deixou o glamour no passado. Atualmente está vazio e de portas fechadas.

Nesta sexta-feira, 1º de agosto, Bauru completa 129 anos. O site do g1 revisitou a mansão que marcou a história do município. O objetivo? mostrar como está o espaço quase 45 anos após o fim das atividades. Além de relembrar como Eny o transformou em uma referência nacional e ajudou a cidade a ficar conhecida em vários pontos do Brasil.

O início

Conforme a obra “Eny e o Grande Bordel Brasileiro”, de Lucius de Mello, Emy Cezarino, como registraramerroneamente no cartório, nasceu no dia 23 de abril de 1917, em São Paulo (SP). Apesar da letra trocada, sempre a chamaram de Eny.

Filha do imigrante italiano José Cezarino com a francesa Angelina Barssoti Cesarino, a paulistana já tinha o seu enxoval de casamento pronto quando fugiu da família para se prostituir no bairro Bom Retiro, da capital, quando já era maior de idade.

Ainda conforme o livro, Eny chegou a conhecer o ex-presidente Getúlio Vargas em jantares finos para os quais a convidaram. De lá, foi para o Rio de Janeiro (RJ) e, algum tempo depois, para Porto Alegre (RS). Além disso, também trabalhou em Paranaguá (PR) até descobrir as oportunidades que estavam surgindo em uma cidade do interior de SP chamada Bauru.

À esquerda, Eny durante sua temporada em Paranaguá e, à esquerda, a cafetina em Bauru — Foto: Reprodução/’Eny e o Grande Bordel Brasileiro’/Editora Planeta

“De 1950 até 1970, Bauru deu um salto de desenvolvimento tão grande que se tornou a cidade mais importante do interior do estado de São Paulo”, conforme Terezinha Santarosa Zanlochi, professora doutora em história social pela Universidade de São Paulo (USP).

Conforme a pesquisadora, a localização estratégica de Bauru, um entreposto entre pontos de grande importância comercial como o Mato Grosso e o lado Atlântico de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a estrada de ferro, o setor de telecomunicações se destacando com a criação da primeira emissora de todo o interior da América Latina (TV Bauru Canal 2, atual TV TEM), uma indústria aquecida e empreendedores que acreditaram no potencial da cidade foram a fórmula de crescimento do município.

A fama de Bauru foi projetada para além das fronteiras do estado. Eny, assim como diversos outros empresários, desceu do trem com a intenção de investir na “Cidade Sem Limites”. Assim sua missão era juntar suas economias para tornar-se dona do seu próprio negócio.

Administradora e influente

Prestando serviços na Pensão da Dona Nair, na Rua Rio Branco, quadra 5, Eny guardou cada nota de cruzeiro na intenção de conseguir comprar e comandar um dos pontos mais movimentados de Bauru.

Quando conseguiu, o tornou um dos mais luxuosos da rua. A partir do lucro e procura, conseguiu comprar o grande terreno próximo ao trevo da cidade, à beira da Rodovia Marechal Rondon (SP-300). Isso, quando autoridades determinaram a retirada dos bordéis do Centro do município.

Fotografia das meninas que trabalhavam no bordel de Eny Cezarino, em Bauru (SP) — Foto: Reprodução/’Eny e o Grande Bordel Brasileiro’/Editora Planeta

Administradora, conseguia o lucro não apenas com o trabalho das prostitutas, mas também com a venda de bebidas inflacionadas. Além do consumo dos clientes no interior do estabelecimento.

Mesmo durante períodos de efervescência política e polarização, fazia o máximo para se tornar neutra ou, pelo menos, ser discreta ao apoiar seus amigos. O exemplo: Nicola Avallone Junior, ex-prefeito de Bauru e ex-deputado estadual, que se tornou amigo próximo da cafetina até o fim de sua vida.

Visão aérea do bordel de Eny Cezarino, em Bauru (SP) — Foto: Reprodução/Facebook

“Bauru aglutinava as pessoas e a Casa da Eny, na verdade, se tornou um ponto de encontro desses empreendedores, comerciantes e políticos que aqui vinham para fazer os seus negócios”, conforme a historiadora Terezinha.

Além disso, com as grandes cifras depositadas em sua conta no banco quase que diariamente, Eny também se dedicou a ajudar populações carentes. Doações de alimentos, bem como frutas e carnes para diversas instituições da cidade eram realizadas frequentemente pela cafetina, que conquistou também uma fama de caridosa.

Visão da piscina do bordel de Eny Cezarino, em Bauru (SP) — Foto: Reprodução/Facebook

A vida de Eny

Objeto de curiosidade do jornalista Lucius de Mello, à época repórter da Rede Globo-Oeste Paulista (atual TV TEM), a vida da empresária foi então explorada nas 400 páginas do livro “Eny e o Grande Bordel Brasileiro”, obra finalista do Prêmio Jabuti na categoria melhor reportagem/biografia em 2003.

O jornalista, que é doutor em letras pelo programa de pós-graduação em letras estrangeiras e tradução da FFLCH – USP e Sorbonne Université-Paris, explicou que foram mais de dez anos explorando cada detalhe da vida da famosa Madame Eny.

“Deu muito trabalho localizar, convencer e ouvir parentes próximos e distantes, amigos(as) íntimos(as), ex-namorados, ex-prostitutas e ex-funcionários, frequentadores anônimos e famosos do bordel. Ouvi aproximadamente 100 pessoas para a biografia. Acredito que fui o primeiro jornalista a biografar a história de uma puta no Brasil”, conta.

Lucius de Mello à esquerda e, à direita, a capa do seu livro ‘Eny e o Grande Bordel Brasileiro’ — Foto: Arquivo pessoal

A visita do jornalista ao bordel se deu nos anos 2000. Isso aconteceu depois da venda do local, fechada em 1983, no valor de 150 milhões de cruzeiros. Na época, como Lucius relata em seu livro, o local já mostrava sinais de abandono. Isso mesmo com alguns quartos ainda manterem os espelhos no teto, as cortinas de veludo e as camas redondas.

A memória do local e das ações da cafetina, no entanto, se mantinha viva pelas ruas de Bauru: os comentários que o escritor ouvia ao falar de Eny eram positivos. “Diziam que ela era bela, charmosa e elegante. Uma mulher que fazia muita caridade, pagava o enterro dos mendigos e sempre ajudava os pobres. Os elogios não tinham fim”, diz em um dos trechos do livro.

As garotas da Eny

As chamadas “garotas da Eny” possuíam ficha policial limpa, obrigatoriedade de exames médicos, idas frequentes ao melhor salão de beleza do município, vestidos feitos sob medida e a necessidade de atingirem o nível de qualidade determinado pela cafetina, à altura do bordel e de seus convidados.

Como as funcionárias não eram aceitas em eventos abertos da igreja, como as missas e quermesses, Eny fazia festas juninas e outros eventos em sua casa. Mesmo com olhares de julgamento, muitos comerciantes viam benefícios em prestar serviços à cafetina, que trazia muito lucro.

A lista VIP incluía de personalidades influentes. Isso incluía celebridades da música, empresários, fazendeiros e curiosos a confraternizações de grandes empresas. Vinícius de Moraes, Sérgio Reis, Jânio Quadros, Jurandyr Bueno Filho, Elke Maravilha e Paulo Maluf já marcaram presença no local, segundo os relatos presentes na sua biografia.

Fotografia das meninas que trabalhavam no bordel de Eny Cezarino, em Bauru (SP) — Foto: Reprodução/’Eny e o Grande Bordel Brasileiro’/Editora Planeta

O depois

O jardim de rosas, os móveis luxuosos, o bar cheio de bebidas e os quartos que receberam muitos clientes já não existem mais. Após a venda do imóvel, a Casa da Eny chegou a ser utilizada como local de festas nos anos 2000, mas, atualmente, segue com uma tranquilidade estranha para uma casa que já chegou a ser tão agitada.

Em entrevistas para veículos jornalísticos à época da venda, Eny Cezarino afirmou que o ramo de motéis estava enfraquecendo o seu negócio. Além disso, a mudança dos costumes no início dos anos 80 fez com que o movimento de clientes diminuísse, e um golpe do seu contador fez com que a fortuna que a cafetina havia construído durante toda a sua vida se diluísse até o fim.

Quatro anos após se desfazer do negócio, Eny teve uma piora em sua saúde e também em suas finanças. Ela terminou falecendo no dia 24 de agosto de 1987, em um leito do Hospital Beneficência Portuguesa, em Bauru.

O velório não atraiu grande público, mas as memórias da casa e das ações da cafetina se mantinham vivas pelas ruas da cidade: os comentários que Lucius ouvia ao falar de Eny após a sua morte eram sempre positivos.

Eny Cezarino, em Bauru (SP), já no fim de sua vida, em 1982 — Foto: Reprodução/Facebook/’Revista Fatos e Fotos’

Considerado o maior bordel do Brasil, o letreiro do Eny’s Bar continua referenciando o local, mas não brilha há tempos em um local que se tornou, durante bons anos, um dos mais conhecidos da cidade.

“Vale lembrar que, no auge da sua casa, muitas autoridades políticas vinham a Bauru e nem lembravam do prefeito. Só visitavam Eny. Apesar do preconceito e da intolerância que insistem em apagar o protagonismo que Eny teve na história de Bauru, ela segue viva no imaginário popular“, finaliza Lucius de Mello.

Visão do letreiro do bordel de Eny Cezarino nos anos 2000, em Bauru (SP) — Foto: Lucius de Mello/Arquivo pessoal

G1

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