
Mesmo sem bater o martelo, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deu toda a pista de que o ciclo de aumento de juros está muito perto de acabar. Talvez até já tenha terminado. Isso significa que chegou a hora de olhar para seus investimentos em renda fixa e, provavelmente, fazer alguns ajustes. Aquela escolha quase óbvia dos últimos meses de colocar o dinheiro em um produto que acompanha a variação da Selic deve começar a dar espaço para os ativos prefixados. Ou, no mínimo, os que rendem um juro real mais a variação da inflação. Esse é um jeito de assegurar que esse juro tão alto continue corrigindo sua carteira por algum tempo.
No comunicado de sua decisão de elevar a Selic para 14,75%, o Copom afirmou que, de forma cautelosa, é preciso monitorar as condições econômicas. Só então, decidir o que fazer. Já na reunião anterior, ele havia dito explicitamente que faria um novo aumento do juro em maio. Essa mudança de discurso é típica de quando a autoridade monetária quer preparar o mercado para o encerramento do ciclo.
Investimento
Mas a verdade é que, de agora em diante, faz pouca diferença para o investidor se a Selic vai subir mais 0,25 ponto ou se vai estacionar em 14,75%. O importante é que, com a perspectiva de que o juro vai parar de subir em breve, as taxas de longo prazo tendem a cair. Isso ocorre antes mesmo que a possibilidade do Copom iniciar o corte de juros comece a ser discutida. E são essas taxas mais longas que, no fim das contas, importam para quem quer montar uma boa estratégia em renda fixa. Seja em títulos do Tesouro Nacional, seja em títulos bancários ou corporativos.
“O investidor não deve esperar a decisão do Copom para, então, alocar em títulos prefixados. Isso porque a precificação do título está relacionada com a expectativa da taxa no futuro, não a taxa de hoje”, afirma Tiago Feitosa, fundador da T2 Educação.
Essa nova janela de mercado que se abre é favorável para investir tanto em títulos prefixados (LTNs e NTN-Fs) quanto em papéis atrelados à inflação (NTN-Bs). Os prêmios continuam altos. Isso dentro de uma visão de médio e longo prazos. “Não acho que seja um ou outro, de escolher entre prefixado ou NTN-Bs, mas sim de diversificar entre os diferentes tipos de renda fixa”, diz o chefe de alocação da BlackBird Investimentos, Gustavo Harada. “As taxas atuais das NTN-Bs também estão historicamente atrativas.”
O economista-chefe e estrategista da AZ Quest, Andre Muller de Lima, observa que nos últimos dois meses os juros futuros já haviam começado a cair. “A nossa expectativa é de que a curva de juros vai continuar fechando.” Faz sentido, portanto, destinar uma parte do investimento dedicado a renda fixa para essas taxas prefixadas. Elas estão hoje perto dos 14%, antes que caiam ainda mais.
Juros
Para se ter uma ideia, a taxa de juros projetada para janeiro de 2027 no título prefixado atingiu o pico de 15% em meados de março. Na última quarta-feira, havia caído para 13,96%. A aposta dos investidores no fim do ciclo de aumento de juros explica boa parte dessa queda.
Mas não é só isso. Segundo o especialista da AZ Quest, de lá para cá uma série de fatores tem ajudado a manter as expectativas sobre a inflação menos pessimistas. No fim de 2024, lembrou Lima, havia uma discussão sobre dominância fiscal, quando a política fiscal descontrolada prevalece sobre a monetária. “Hoje temos nos distanciado dessa preocupação.”
Boa parte das questões envolvidas nessa melhora do cenário de preços tem perfil mais estrutural, ou seja, com efeitos no médio e longo prazos. Uma das variáveis é a perspectiva de menor crescimento dos Estados Unidos e do mundo diante da guerra tarifária promovida pelo presidente americano Donald Trump.
Economia americana
Um crescimento menor e até mesmo a possibilidade de a economia dos EUA entrar em recessão traz um alívio na pressão sobre preços importados. Esse risco tem sido citado por muitas casas de análise desde o início da imposição de tarifas pelo governo americano. Além disso, houve aumento da volatilidade do mercado acionário americano diante das incertezas sobre o desfecho da guerra comercial. Um fluxo significativo de recursos de portfólios globais começou a escapar da força gravitacional das bolsas nos Estados Unidos e dos títulos do Tesouro de lá, os chamados Treasuries.
O resultado tem sido um enfraquecimento global do dólar. Lima explica que o esperado é que a moeda americana continue a manter uma trajetória de enfraquecimento nos próximos trimestres. Um dólar mais fraco e menos volátil ajuda a dissipar os medos de um aumento de pressões inflacionárias.
Perspectiva fiscal
O economista-chefe da AZ Quest afirma ainda que, internamente, houve uma melhora da perspectiva fiscal, com um crescimento menor das despesas públicas. Ainda que o risco fiscal permaneça no ar – e nos preços de mercado – não só os prêmios pararam de subir, como passaram a cair ainda que marginalmente.
A pesquisa Focus feita semanalmente pelo BC com agentes do mercado, mostra existir uma expectativa de a Selic fechar 2026 na casa de 12,5%. Na prática, significa que o consenso de economistas e analistas é do início de um ciclo de queda de juros a partir da segunda metade de 2026. Ele levaria a taxa básica a uma queda de 2,25 pontos percentuais até o fim do ano que vem. A AZ Quest acredita em um início mais cedo, com um corte de 4,25 pontos percentuais, se for considerada a Selic atual. Ou de 4 pontos, se houver uma última elevação em junho.
Se houver ainda o reforço de boas notícias na área fiscal, com, por exemplo, medidas de contenção de gastos e controle do endividamento, a tendência é de a curva de juros fechar ainda mais.
Títulos prefixados
Harada, da BackBird, lembra, porém, que os atuais níveis de juros nominais são elevados. Eles são uma chance de o investidor travar um rendimento historicamente alto, se conseguir manter os títulos até o vencimento. Por exemplo, no caso das LTNs com vencimento em 2032, o chamado Tesouro prefixado, o investidor vai receber exatamente o que contratou. Um rendimento de 13,98% ao ano, por dez anos, quando terminar o prazo.
É sempre bom lembrar que, quando se fala em títulos prefixados, as taxas oferecidas na hora da aplicação só valem para quem carregar o título até o vencimento. Sair antes do prazo pode significar um rendimento diferente, maior ou menor. É que um resgate antecipado significa vender o papel no mercado secundário, onde aquele papel pode estar sendo negociado acima ou abaixo do preço pago na hora da aplicação.
Para o curto prazo, os chamados títulos pós-fixados, que acompanham a variação da taxa básica, ainda são muito vantajosos, é verdade, porque eles pagam taxas superiores aos prefixados. Mas, nesse caso, é melhor optar pelos ativos que permitem o resgate a qualquer momento, como é o caso do Tesouro Selic. Isso para não correr o risco de ter seu dinheiro preso numa aplicação em pleno ciclo de queda de juros.