
O delegado que investiga a morte de Benício Xavier, 6, em um hospital particular de Manaus afirma que a médica responsável pelo atendimento da criança confirmou em interrogatório que errou a prescrição de adrenalina.
A criança, que deu entrada na instituição com quadro de tosse e suspeita de laringite, teria piorado após receber adrenalina por via venosa, de acordo com os pais.
“Isso está totalmente elucidado. Ela [a médica Juliana Brasil Santos] sabe que errou a prescrição e confirmou isso em interrogatório”, afirma o delegado Marcelo Martins, responsável pelo caso.
A reportagem tenta entrar em contato, desde o último domingo, 30 de novembro, com o advogado Felipe Braga, que atua na defesa da médica. Fizeram tentativas por meio de mensagens, ligações e email ao seu escritório, mas não teve retorno até a publicação deste texto.
Erro medico
O delegado da Polícia Civil do Amazonas disse que Juliana confirmou que queria ter prescrito a adrenalina por nebulização, não por via endovenosa como a criança acabou sendo medicada.
“Porém, ela não observou a questão da revisão da prescrição médica. Isso impediu que ela pudesse corrigir o erro que ela mesma consignou na prescrição”, diz o delegado.
Em conversas da médica com outro profissional do hospital onde ela trabalhava, que teriam se trocado durante a piora do quadro de saúde de Benício, Juliana também reconhece que errou na prescrição.
Conforme o delegado, chamaram o médico para depoimento e ele confirmou a veracidade das mensagens.
Defesa da médica
Ele afirma que a médica também alega ter ocorrido um problema no sistema do computador do hospital, que teria alterado a via de administração de medicamentos.
O delegado diz que farão uma perícia no equipamento para identificar a existência desse erro. No entanto, outros profissionais que utilizam o sistema negaram haver essa irregularidade.
“O próprio médico tem que realizar essa dupla checagem, ou seja, revisar a prescrição que ele mesmo fez. No caso da doutora Juliana, ela confirma que não revisou”.
Martins diz que o conjunto probatório reunido reforça o entendimento de concluir que a médica seja indiciada sob suspeita de homicídio com dolo eventual (quando a pessoa assume o risco de matar).
Consequências
Na última semana, ele já havia pedido à Justiça a prisão da médica com base nessa alegação. O Tribunal de Justiça do Amazonas, porém, concedeu habeas corpus preventivo à profissional, impedindo sua detenção.
Em manifestação anterior, o advogado da médica afirmou que ela não poderia ser investigada por homicídio doloso. Ele também disse que irá contestar a linha adotada pela Polícia Civil.
Na próxima quinta-feira, 4 de dezembro, a polícia deve promover uma acareação entre os profissionais que atenderam a criança.
O hospital Santa Júlia disse que afastou a médica e uma técnica de enfermagem envolvidas no atendimento a Benício. Além disso, realiza uma investigação interna para apurar o que ocasionou a morte da criança.