
A digestão é o processo de transformar os alimentos em partículas menores para que os nutrientes possam ser absorvidos e utilizados pelas células. Ela começa na boca e passa pelo estômago, intestino delgado e grosso. Mas muitos fatores contribuem para problemas de digestão e alguns chás podem ajudar neste processo, de forma natural e sem a necessidade de medicamentos, dependendo do caso.
Mas será que os chás têm contraindicações? Qual quantidade de chás podemos consumir por dia? Quais cuidados devemos ter ao ingerir chás? E quais de fato são bons para a digestão?
Diversos chás se reconhecem pela ciência por seus efeitos benéficos na digestão, como:
➡️ Chá de hortelã-pimenta (Mentha piperita)
- Partes do vegetal autorizadas pela Anvisa: folhas e ramos
- Auxilia no alívio de cólicas, gases e a sensação de empachamento, pois o mentol presente na planta tem efeito antiespasmódico. Ajuda a relaxar os músculos do trato digestivo. Reduz gases e alivia a sensação de inchaço e os sintomas de refluxo. Pesquisas indicam benefícios no tratamento da síndrome do intestino irritável (SII) e dispepsia funcional.
(Baccharis genistelloides)Chá de carqueja:
- Partes do vegetal autorizadas pela Anvisa: folhas
- Auxilia na digestão, especialmente quando há refluxo ou má digestão de alimentos gordurosos, e também pode ajudar na função do fígado.
(Matricaria chamomilla)Chá de camomila:
- Partes do vegetal autorizadas pela Anvisa: capítulos florais
- Além de calmante, é útil em casos de má digestão e cólicas leves, especialmente por seu efeito relaxante sobre o trato gastrointestinal. Ajuda a aliviar cólicas e desconforto estomacal e possui propriedades anti-inflamatórias.
(Foeniculum vulgare)Chá de erva-doce:
- Partes do vegetal autorizadas pela Anvisa: frutos
- Ajuda a reduzir o inchaço. Combate gases, cólicas e promove um alívio geral após refeições pesadas, por conter compostos com ação carminativa e anti-inflamatória. Estudos comprovam seu efeito contra cólicas e distensão abdominal.
(Peumus boldus) Chá de boldo:
- Partes do vegetal autorizadas pela Anvisa: folhas
- É bastante conhecido por estimular a produção da bile, ajudando na digestão de gorduras e na função hepática, embora seu uso deva ser moderado devido à presença de alcaloides (compostos químicos orgânicos produzidos principalmente por plantas).
(Camellia sinensis) Chá verde:
- Partes do vegetal autorizadas pela Anvisa: folhas e talos
- Compostos do chá verde, como catequinas, podem melhorar o metabolismo e ter efeitos protetores sobre o fígado e intestinos, apontam estudos.
Chá de gengibre:
- Estudos indicam que o gengibre pode ser eficaz na redução de náuseas e vômitos, especialmente em casos de enjoo matinal e pós-operatório. Suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes se relacionam a uma substância chamada gengirol.
- OBS: A Anvisa reconhece o chá de gengibre como fitoterápico, com contraindicações. Por isso, recomenda-se uma consulta ao profissional especialista antes de sua ingesta.
“Essas plantas são tradicionalmente utilizadas para aliviar desconfortos gástricos, melhorar a digestão e combater sintomas como gases, náuseas e sensação de estufamento”, explica o nutricionista pós-graduado em nutrição clínica funcional Guilherme Rodrigues Miranda Lopes.
O médico nutrólogo e docente dos cursos de pós-graduação da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) Fabiano Robert acrescenta que, embora muitos estudos sejam promissores, é importante lembrar que mais pesquisas são necessárias para confirmar esses efeitos e determinar as dosagens ideais.
Cuidados ao comprar os chás
O ideal é que os chás sejam comprados a granel, em lugares de boa procedência, porque muitas vezes podem estar com fungos, contaminados ou com pesticidas, destaca a nutricionista Nathali Loyola.
Ao escolher um chá, verifique no rótulo a quantidade diária recomendada para o consumo. A recomendação indicada e segura por especialistas é de 2 a 3 xícaras por dia.
Além disso, recomenda-se o consumo no dia do preparo, já que ocorrem perdas significativas dos compostos bioativos com o tempo, mesmo quando armazenados sob refrigeração.
O que pode prejudicar a digestão?
- Alimentação inadequada: gordura em excesso retarda a digestão (alimentos fritos, embutidos, carnes gordas e fast food); falta de fibras dificulta o trânsito intestinal, provocando constipação; alimentos ultraprocessados, como embutidos, contêm aditivos que podem irritar o sistema digestivo; ingestão excessiva de açúcar ou lactose pode causar fermentação e gases, especialmente em quem tem intolerâncias.
- Estresse e ansiedade: afetam a produção de enzimas digestivas e o fluxo intestinal, podendo causar azia, dor abdominal ou diarreia.
- Doenças e condições de saúde, como gastrite, refluxo, síndrome do intestino irritável (SII), intolerâncias alimentares, doença de Crohn, doenças hepáticas, pancreáticas ou da vesícula também prejudicam a digestão.
- Maus hábitos, como comer rápido demais, exagerar na quantidade, beber muito líquido durante as refeições e deitar-se logo após comer.
“Os alimentos ultraprocessados, ricos em nitritos e nitratos, além da dieta rica em açúcares, pode levar a um desequilíbrio, com liberação de endotoxinas bacterianas que podem promover um pequeno processo inflamatório quando absorvidas em excesso, levando a sintomas como inchaço abdominal e até as vezes diarreias leves”, explica o gastrocirurgião Alvaro Faria.
O médico acrescenta ainda que normalmente recomenda-se tomar os chás mornos ou não muito quentes, preferencialmente após as refeições mais pesadas e com pouco ou nenhum açúcar. Mas mesmo isso merece atenção:
“Se você estiver precisando frequentemente de chás para auxiliar a digestão, pode ser um sinal de que algo não está bem com sua saúde gastrointestinal, e uma visita ao especialista deve ser considerada”, diz Faria.