
Dois dias após Donald Trump anunciar o “tarifaço” dos Estados Unidos contra praticamente todos os países do globo, a China não deixou barato. O gigante asiático anunciou, nesta sexta-feira, 4 de abril, a taxação de 34% sobre os produtos norte-americanos, o mesmo valor aplicado pelos EUA. E, segundo analistas, o dia na bolsa brasileira promete ser bem tenso. Mas não tão ruim quanto em outros países.
Como afeta a bolsa brasileira?
Segundo Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Way Investimentos e coordenador de economia e finanças da ESPM, hoje pode ser um dia de muita volatilidade porque os investidores buscarão se proteger, especialmente porque ninguém sabe o que pode acontecer durante o fim de semana.
“Não sabemos se, nos próximos dias, essa guerra comercial vai escalar ou se alguém vai ter um pouco de sangue frio para jogar água gelada nessa fervura. Será um dia muito tenso. As bolsas na Europa já estão derretendo”, afirma.
Por volta de 10 h (de Brasília), o índice pan-europeu Stoxx 600 operava em queda de 3,91%, aos 502,66 pontos. No mesmo horário, o índice FTSE 100, da Bolsa de Londres, recuava 3,45%; o DAX, de Frankfurt, tinha baixa de 3,71%; o índice CAC 40, da Bolsa de Paris, cedia 3,47%; e, em Milão, o FTSE MIB despencava, em baixa de 5,60%.
Marco Saravalle, estrategista-chefe da MSX Invest, lembra que além da retaliação chinesa, o mercado ainda está digerindo a decisão da Opep+ de aumentar a oferta de petróleo, o que pode pressionar os preços da commodity para baixo.
“O primeiro efeito que a gente está vendo até olhando para os futuros de NY é que estavam em queda e aceleraram a queda. O petróleo do tipo brent também”, afirma. Agora, o especialista espera que a bolsa brasileira possa passar por alguma pressão, justamente por ter uma forte participação de commodities.
“O que esperamos para a bolsa, como tem muita commodity, é que pode ser negativo, mas com um desempenho melhor do que as bolsas norte-americanas ou mundiais”, conclui.
E o meu bolso, como fica?
Uma das principais preocupações em relação a uma retaliação de outros países é uma desaceleração da economia, não só norte-americana (tese, inclusive, que não foi descartada por Donald Trump) como também de vários outros países. O que pode, inclusive, impactar o Brasil.
Existe, no entanto, um ponto que pode ser positivo para o mercado local. Caso haja uma desaceleração nos EUA, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode cortar ainda mais os juros. Com isso, os títulos públicos norte-americanos passam a ter rendimentos menores, o que pode incentivar investidores a buscar oportunidades em outros ativos e mercados, como na bolsa brasileira.
“A curva de juros vai começar a precificar a recessão, o que ajuda na política monetária por aqui”, afirma Saravalle. Trocando em miúdos, caso esse cenário se concretize, os estrangeiros pode alocar no Brasil, o que traz mais dólares para cá. Portanto, o real se fortalece ante o dólar e ajuda na recuperação dos ativos locais, o que pode trazer benefícios para a economia do país.
Estado do Dólar
Como bem se sabe, um dólar mais barato pode ajudar, por exemplo, na inflação. Afinal, muitos dos produtos que são consumidos diariamente no Brasil são cotados ou pelo menos têm matérias-primas precificadas em dólar.
É o caso do trigo, amplamente utilizado na produção de pães, massas e biscoitos. O mesmo acontece com a gasolina, que tem seu preço influenciado pela cotação internacional do petróleo (que é dada em dólar). E quando a gasolina encarece, os custos de transporte sobem e afetam os preços de outros bens. Isso tudo sem falar nos produtos eletrônicos e eletrônicos e eletrodomésticos, que dependem de componentes importados.
Espírito Santo pondera que o raciocínio faz sentido, mas que é preciso analisar se não há o risco de ter o que ele chama de “o pior dos mundos”, que é uma desaceleração nos Estados Unidos, mas com inflação ainda alta por conta de um setor produtivo crescendo menos justamente por conta de todas essas tarifas. Assim, há o cenário chamado de “estagflação”, que pode ter repercussões no Brasil.
“Aqui, a inflação não está com jeito de que está desacelerando rapidamente. Então, acho que por aqui o Banco Central deve subir os juros em pelo menos mais 0,5 ponto percentual em maio”, diz.