Cotado a R$ 5,278, no início da manhã da quinta-feira, 18 de setembro, o dólar está no menor patamar em 15 meses. Ele acumula queda de 14,2% neste ano frente ao real. Em dia de superquarta, na qual Federal Reserve (Fed, autoridade monetária dos Estados Unidos) e Banco Central do Brasil decidem sobre as taxas de juros dos respectivos países, a moeda americana pode oscilar ainda mais.
O Fed retomou o ciclo de corte de juros e reduziu a taxa básica em 0,25 ponto percentual, para o patamar entre 4% e 4,25% ao ano. É a primeira redução no segundo mandato de Donald Trump. De acordo com comunicado, a autoridade monetária sinaliza mais dois cortes até o fim deste ano. O intervalo deve terminar entre 3,5% e 3,75% ao ano.
No Brasil, a Selic foi mantida em 15% pela segunda reunião consecutiva. As atenções aqui se voltam para a sinalização que os diretores do Banco Central deram sobre o futuro, o assim chamado “guidance”. E ele é de que a “política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”, como divulgado no comunicado da instituição. Ou seja, sem sinais de cortes ainda este ano.
Mas como isso afeta o câmbio entre os dois países? O dólar é um dos preços de mais difícil previsão na economia. Por isso, apesar de uma queda na taxa de juros dos Estados Unidos diminuir retornos sobre os títulos de dívida pública americanos, e teoricamente aumentar o apetite por ativos de risco (como o real), não há certezas de que esse será o movimento desta quarta.
O dólar cai ou sobe nesta superquarta?
Há possibilidade, inclusive, dos preços subirem, de acordo com o estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves. “Os yields [dos títulos de dívida pública dos EUA] já caíram e poderiam, eventualmente, reverter. É aquela ideia de sobe no boato, cai no fato”, diz.
A chance de uma eventual queda maior do dólar frente ao real e demais moedas reside em como o mercado interpretará a sinalização dos dirigentes do Fed. Será sobre futuros cortes. Se a percepção for de que a desaceleração do mercado de trabalho causa mais preocupação do que a alta da inflação – como parece ser a mensagem de Jerome Powell –, o dólar deve continuar caindo. É essa a leitura, inicialmente, que Alves faz da posição do Fed.
Em contrapartida, se pesar a avaliação de descontrole inflacionário e que o ciclo de cortes de juros pode ser interrompido novamente, é provável que os preços do dólar subam com força frente ao real, afirma o estrategista.
CPI subiu
O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) dos Estados Unidos subiu de 0,4% em agosto, levemente acima do esperado pelo mercado. Enquanto isso, o Índice de Preços ao Produtor (PPI) mostrou deflação, com queda de 0,1%.
A estrategista-chefe da Nomad, Paula Zogbi, destaca que o diferencial de juros entre o país norte-americano e o Brasil fortalecerá o real frente ao dólar. “Isso estimula operações de ‘carry trade’ [tomar dinheiro com juros baixos e aplicá-lo onde os juros estão altos] e um fluxo para ativos aqui no Brasil, em detrimento de ativos americanos, uma busca maior por tomada de risco”, diz Zogbi. Por isso, a estrategista vê a continuidade da desvalorização do dólar como cenário mais provável no curto prazo, tudo mais constante.
Porém, ela também ressalta que o Fed continua cauteloso em relação ao ritmo do afrouxamento monetário, frente a uma inflação que permanece “relativamente elevada”, nas palavras de Powell. O que cria dúvidas sobre o espaço para novos cortes e pode respingar no real e ativos brasileiros.
O dólar encerrou sessão praticamente estável com alta de 0,06% frente ao real após o anúncio Fed.
O dólar vai continuar caindo ou pode subir até o fim do ano?
No cenário de longo prazo, a estrategista da Nomad afirma que é difícil cravar se o dólar continuará em queda. O principal desafio nesse sentido é o fiscal, acentuado pela proximidade com o período eleitoral, o que “continua preocupando e pode inibir uma parte do fluxo [a favor do real]”, diz Zogbi. “A gente vê volatilidade historicamente em períodos eleitorais. O mercado não gosta de incertezas. Investidores estrangeiros, principalmente, podem evitar investir no Brasil”.
Já o chefe de operações bancárias da EQI Investimentos, Alexandre Viotto, vê uma tendência de que o dólar siga perdendo valor frente ao real até o fim do ano. O principal motivo é o diferencial de juros entre as duas moedas. O segundo motivo, com menor peso, é a questão política. A condenação de Bolsonaro elimina a possibilidade de que ele concorra às eleições de 2026, e fortalece uma alternativa mais ao centro, na visão de Viotto, que cita o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
“O mercado entende isso como uma melhoria das expectativas. Um governo mais ao centro tende a tomar medidas mais equilibradas. Inclusive, há espaço para um maior diálogo entre desses dois polos [do espectro político] para aprovação de reformas e mesmo para governabilidade desse eventual governo Tarcísio”, diz.
Real em alta
Para o diretor de investimentos do UBS Global Wealth Management, Luciano Telo, o real, assim como as demais moedas emergentes, deve continuar subindo em relação ao dólar. O afrouxamento da política monetária e a desaceleração do crescimento econômico nos Estados Unidos contribuem para essa tendência. No caso brasileiro, há ainda o diferencial de juros. O Banco Central do Brasil deve manter juros no atual patamar até o fim do ano, de acordo com as previsões do UBS.
“No entanto, é importante destacar que esse movimento é predominantemente externo. Enquanto não houver mudanças concretas na condução da política econômica no Brasil, a percepção de risco fiscal seguirá limitando ganhos mais consistentes da moeda”, afirma Telo.