Boeing 737-800 da GOL Linhas Aéreas e Embraer E195 da Azul Linhas Aéreas – Foto: Reprodução

Mais da metade de todo o mercado aéreo brasileiro está concentrada nas companhias aéreas GOL e Azul. No dia 15 de janeiro deste ano, a Azul e a Abra, holding que controla a GOL, assinaram um memorando de entendimento para a fusão das duas empresas.

A expectativa do governo federal é que o processo de junção se concretize em até 12 meses. Caso a união aconteça, a nova empresa concentraria cerca de 60% de todo o setor aéreo brasileiro. A possível fusão já recebe críticas por seus potenciais impactos negativos sobre o mercado de trabalho e os consumidores.

Para abordar os impactos dessa possível fusão, o professor Luciano Nakabashi, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, aponta as principais mudanças que poderiam ocorrer. Ele é especialista em crescimento e desenvolvimento econômico.

As marcas GOL e Azul continuariam existindo. Porém, operariam de forma conjunta, como se fossem uma única empresa. Então ocorreria realmente uma fusão. Na prática, de forma geral, uma empresa poderia utilizar o espaço nos aviões da outra, com o objetivo de aumentar a eficiência e a utilização das aeronaves“, disse.

Segundo o professor, a junção das duas empresas tende a impactar a concorrência no setor aéreo. “O mercado aéreo no Brasil já é muito concentrado. Existem três empresas que dominam o setor. Com a junção da GOL e da Azul, elas passariam a atuar em conjunto, como uma só empresa. Isso reduziria esse número de três para duas companhias dominantes. Logo, haveria uma redução significativa na concorrência, justamente pelo fato de o mercado já ser altamente concentrado.

Consequências para o mercado

A redução da concorrência traria então consequências para o mercado aéreo brasileiro. De acordo com Nakabashi, “espera-se um aumento na eficiência, o que ocorreria pela possibilidade de as empresas alocarem mais passageiros por avião. Em muitos casos, elas operam as mesmas rotas. Assim, poderiam compartilhar os voos e, como consequência, reduzir a ociosidade que existe atualmente em muitos trechos.” De forma geral, segundo o professor, haveria uma redução na quantidade de voos. Além disso, a tendência seria de aumento nos preços das passagens para os consumidores. “Acredito que essa seja a grande preocupação no momento.

O docente também destaca os desafios regulatórios para que a junção ocorra. “Há desafios regulatórios que precisam ser analisados pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade. O Cade vai examinar as questões de concorrência. Vai analisar como isso pode afetar os preços e julgar o processo. Existe a influência de grupos de interesse, via políticos, sobre o conselho, devido às empresas reguladas. Esse é o grande problema: a interferência dos interessados. Dependendo da análise, o conselho pode proibir a fusão ou impor algumas restrições. Essas restrições podem incluir a transferência de parte das rotas para outras companhias. Isso visa evitar uma redução drástica na concorrência e, consequentemente, impedir um aumento nos preços para os consumidores.

Impacto

Outra preocupação, de acordo com Nakabashi, é que o mercado de trabalho do setor também será impactado. Segundo o especialista, “a redução da concorrência tende a diminuir a oferta de postos de trabalho. Isso reduziria a demanda por trabalhadores e prestadores de serviço, gerando desemprego no setor. Essas consequências fazem parte do processo de reestruturação que ocorrerá nas companhias, caso passem a operar de forma conjunta.

Conforme Nakabashi, o ideal para o setor aéreo brasileiro seria o aumento no número de empresas, e não sua redução, como pode acontecer com essa fusão. “O grande ponto é que, se existissem mais companhias, a concorrência tenderia a aumentar. Assim, os preços cairiam, pois haveria maior oferta de serviços no setor. Isso favoreceria o consumidor. Acho que esse processo de fusão representa um movimento contrário, que prejudica o consumidor. Tanto nos preços das passagens quanto na oferta de serviços e de voos disponíveis para atender à demanda do país. Do ponto de vista do consumidor, essa possível união das companhias é negativa.

Aeroin com Jornal da USP por Felipe Medeiros

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *