Antes e depois da costa espanhola, afetada por fenômeno Dana — Foto: Planet Labs / AFP

A pior Dana (depressão isolada em altos níveis da atmosfera) ou “queda de frio” que atingiu a Espanha neste século deixou ao menos 158 mortos e uma devastação visível a quilômetros de distância. Os satélites da Nasa, a agência espacial americana, conseguiram registrar como o antes e depois da paisagem afetada pela tempestade.

Nas imagens, é possível ver como a Albufera, a costa marítima, transbordou, e os territórios vizinhos a sul ficaram completamente inundados numa diferença de apenas 24 horas, entre esta terça e quarta-feira.

Imagens registradas por satélite da Nasa e do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) também mostraram os impactos de Dana na região de Valência. As fotos foram captadas pelo Landsat 8, em diferentes momentos do mês de outubro, antes e depois da catástrofe.

Imagens captadas em 8 de outubro e 30 de outubro pelo satélite do USGS também exibem os danos ao ecossistema da região e a escala do desastre no Leste da Espanha.

Várias regiões da Espanha foram afetadas, nos últimos dias, por um fenômeno conhecido como Depressão Isolada em Níveis Altos (Dana), que provocou chuvas intensas que continuarão ao longo da semana, conforme informou a Agência Estatal de Meteorologia (Aemet). Essas condições climáticas que assolam a região desde segunda-feira causaram destruição e grandes inundações, levando à morte de pelo menos 95 pessoas.

Os municípios mais afetados são os da Comunidade Valenciana, o Levante peninsular, Andaluzia e Castilla-La Mancha, abrangendo uma ampla área do sul e do leste do país.

Conforme relatado pelo jornal espanhol El Mundo, a Dana é um “sistema de baixa pressão nos níveis altos da atmosfera, que se separou completamente do fluxo zonal em altura”. “Tipicamente, essas depressões isoladas em níveis altos situam-se, no hemisfério norte, ao sul do fluxo estabelecido em altura”, explicaram.

O fenômeno se origina a partir de uma corrente de ventos polares muito intensos – entre 150 e 300 quilômetros por hora, aproximadamente – que circulam na parte alta da atmosfera, a 9 mil metros de altitude, e cujo percurso gira em torno do Polo Norte de Oeste a Leste. Ou seja, esses ventos frios se formam na camada superior da atmosfera, depois descem mais perto da superfície e começam a se deslocar, transformando-se em massas de ar, ciclones ou, neste caso, Danas.

Ao contrário dos temporais comuns, uma Dana pode permanecer em uma mesma região por vários dias, o que aumenta os impactos da tempestade.

Até o momento, o fenômeno gerou imagens marcantes, como a de uma vítima que ficou presa pelas inundações e precisou ser resgatada junto com seu animal de estimação por um helicóptero. Em vídeos que se tornaram virais, o agente dos serviços de emergência conseguiu resgatar ambos em meio ao caos.

Em outras imagens que circularam nas redes sociais, o temporal abalou as ruas das cidades, gerando inundações impressionantes e um total descontrole. “As pessoas que estão agora mesmo paradas ou bloqueadas devem saber que estamos chegando, e se ainda não chegamos, não é por falta de recursos, nem de disposição, nem de capacidade, porque temos toda a capacidade para acessar. É ainda uma questão de acesso”, afirmaram as autoridades valencianas.

Até agora, a Dana causou inúmeros danos em várias regiões do país e custou a vida de 72 pessoas na Comunidade Valenciana e de uma mulher de 88 anos na província de Cuenca. Na região de Valência, choveram cerca de 490 milímetros em oito horas, quando a média anual nessa área é de 450-500 milímetros.

— Os pesquisadores ainda não sabem se, devido ao aquecimento global, os fenômenos meteorológicos extremos se tornaram mais frequentes, mas estamos certos de que se tornaram mais violentos — explicou Antonello Pasini, físico climático do Conselho Superior de Pesquisas Científicas.

Por sua vez, o presidente espanhol, Pedro Sánchez, falou nesta quarta-feira e assegurou aos afetados que o Estado não os “deixará sozinhos”; no entanto, alertou que o desastre é uma emergência que “continua”. “As administrações públicas estão trabalhando de forma coordenada para fazer tudo o que for possível, e vamos disponibilizar todos os recursos necessários hoje, amanhã e pelo tempo que for preciso para que possamos nos recuperar desta tragédia. Não vamos deixá-los sozinhos”, afirmou o dirigente socialista do palácio de La Moncloa.

A Unidade Militar de Emergências mobilizou mais de mil soldados nas áreas devastadas, onde a  água e a lama arrastaram veículos pelas ruas em velocidades perigosas. Por sua vez, a Polícia e os socorristas utilizaram helicópteros para evacuar pessoas de suas casas e carros, já que essa é a única forma de acessar as áreas afetadas.

O Centro de Coordenação Operacional Integrado (Cecopi) anunciou que o número de mortos chegou a 72 pessoas, segundo as informações fornecidas pelas diversas forças de segurança e serviços de emergência que operam na área. Ao mesmo tempo, ressaltaram que este é um “número provisório” e que ainda há dezenas de pessoas desaparecidas.

Em uma das primeiras reações internacionais, o governo da Alemanha ofereceu ajuda à Espanha diante das graves inundações causadas pelo temporal. ”Estamos em contato direto com o governo espanhol para ver se é necessária ajuda nesta terrível catástrofe”, explicou o porta-voz alemão, Steffen Hebestreit. Ele também informou que o chanceler Olaf Scholz e todo o governo alemão estão “profundamente comovidos”.

“Se pudermos ajudar com nosso pessoal experiente em socorro e especialistas em resgate do THW (o serviço de proteção civil), ajudaremos”, acrescentou a ministra do Interior, Nancy Faeser.

O chanceler italiano, Antonio Tajani, também expressou sua “solidariedade e preocupação” com a situação em Valência, acrescentando que, até o momento, não há cidadãos italianos entre as vítimas.

“Estou preocupado com o que está acontecendo na Espanha, expressei minha solidariedade pelos mortos. Até agora, não há italianos envolvidos, mas há mortos e muitos desaparecidos, e a situação é dramática”, afirmou, informando que foi disponibilizado um número de telefone da unidade de crise do Ministério das Relações Exteriores.

O Globo

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