O governo envia nesta terça-feira ao Congresso Nacional o projeto de reforma do Imposto de Renda (IR) que isenta de tributos pessoas físicas que ganham até R$ 5 mil por mês. Esta medida é uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O custo estimado no primeiro ano da medida é de R$ 27 bilhões, antecipou ontem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Segundo técnicos a par das discussões, a isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil vai beneficiar 10 milhões de contribuintes pessoas físicas. Já o novo imposto para cobrir a renúncia fiscal vai afetar um universo de 141 mil pessoas, sendo que a maioria aufere renda com dividendos.

Para cobrir essa renúncia fiscal, a proposta do governo cria uma alíquota mínima. Esta alíquota será cobrada de quem ganha acima de R$ 600 mil por ano. Esse imposto irá considerar praticamente todos os recebimentos do contribuinte, com algumas exceções. Essas exceções serão detalhadas hoje na apresentação da proposta.

Subindo gradativamente

IR 2025
Fique atento na hora de informar dados para não cair na malha fina – Foto: Reprodução

A alíquota começa em zero e vai subir gradativamente. Quando alguém recebe mais de R$ 1,2 milhão todos os anos, pagará, pelo menos, 10% de imposto sobre sua renda. Isso inclui dividendos, modelo de distribuição de lucros pelas empresas que hoje é isento para pessoa física.

Atualmente, o Imposto de Renda sobre dividendos só é cobrado na pessoa jurídica, a uma alíquota fixa. Como os mais ricos recebem mais dividendos, a cobrança efetiva do IR acaba ficando proporcionalmente menor para quem ganha mais. Isso ocorre após os descontos com gastos de educação, saúde e outras isenções.

Com queda na popularidade e baixa aprovação do governo, o aumento da isenção na faixa do Imposto de Renda é a principal aposta de Lula para reverter esse quadro.

Dessa maneira, a medida será o carro-chefe do Executivo no Congresso e entrará em vigor em 2026, ano de eleições presidenciais. Além da isenção, outra promessa de Lula endereçada neste momento é atingir o que o governo chama de “super-ricos”.

Projeto chegou a ser anunciado

Haddad anunciou o projeto em novembro de 2024 junto com o pacote de medidas de corte de gastos. Dessa maneira, essa mistura de temas, aliada a uma desconfiança sobre a compensação, gerou forte reação negativa no mercado financeiro. A cotação do dólar ultrapassou os R$ 6. Agora, a proposta estará sendo efetivamente encaminhada ao Parlamento para começar a tramitar.

No caso do imposto mínimo, não haverá um tributo extra, uma sobretaxa. Dessa forma, o cálculo está sendo feito com base na alíquota efetiva, aquela que é realmente paga pelo contribuinte após descontos com gastos de saúde e educação e isenções.

Sendo assim, para dar efetividade a essa medida, a proposta virá acompanhada da retenção de imposto na fonte sobre dividendos. Esta também se aplica aos dividendos pagos a sócios de empresas no país ou remetidos para o exterior. Isso foi antecipado por O GLOBO em novembro.

Pelo desenho em discussão naquele momento e que tende a se confirmar, a medida vai afetar pessoas físicas que ganham mais de R$ 50 mil em dividendos por empresa mensalmente.

‘Escadinha’

O projeto não altera os tributos pagos por pessoas jurídicas. Mas, na hora de acertar as contas com o Fisco, na declaração de ajuste anual, o montante efetivamente pago pelo contribuinte será calculado. Isso será feito levando em conta o que foi pago pela empresa que distribui o dividendo.

Se o valor ficar acima das novas exigências, haverá um desconto, uma restituição. Se ficar abaixo, será preciso pagar a diferença.

Da mesma forma que detalhará a compensação, o mecanismo do imposto de ajuste na isenção para quem ganha até R$ 5 mil por mês também o governo precisará informar. Não haverá uma simples correção na tabela do IR.

Apenas quem ganha até R$ 5 mil terá o pagamento zerado. Acima desse valor e até R$ 7 mil, haverá uma “escadinha” de aumento de tributo. Superados os R$ 7 mil, volta a valer o atual mecanismo do Imposto de Renda, com suas alíquotas progressivas que vão até 27,5% nominais.

Impacto de R$ 27 bi

Haddad disse que o impacto da isenção está estimado em R$ 27 bilhões no ano que vem. A expectativa inicial da equipe econômica era que a correção custasse R$ 32 bilhões, mas houve um recálculo do valor.

Conforme o ministro o número será menor por causa dos efeitos das isenções de até dois salários mínimos que o governo já concedeu. Sendo assim, o governo pretende, ainda este ano, elevar a isenção do IR dos atuais R$ 2.824 para R$ 3.036 — o equivalente ao valor de dois salários mínimos. Isso resulta em menos pessoas pagando IR:

— Foi um recálculo, porque este ano haverá uma pequena correção depois do Orçamento, por conta do aumento do salário mínimo.

O ministro ressaltou que o presidente sua encomendou as alterações no projeto: não mexer nos descontos e também considerar o CNPJ. Por determinação de Lula, por exemplo, a Fazenda voltou atrás e desistiu de criar um limite para a isenção para pessoas com doenças graves.

Em novembro, Haddad havia anunciado que pretendia restringir a isenção de cobrança no Imposto de Renda nos casos de doença grave apenas a quem ganha até R$ 20 mil mensais.

Antes do anúncio do projeto nesta terça (18), Lula terá encontro com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para tratar das mudanças. Além deles, estarão presentes a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) e líderes do governo.

O GLOBO

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