Elevação do preço do cacau obriga indústria a mudar planos para Páscoa — Foto: Agência Brasil

Em meio à alta expressiva do cacau e ao cenário econômico menos favorável para o consumo, a indústria de chocolates reduziu em 10% a produção de ovos de Páscoa neste ano. Por outro lado, o setor ampliou a variedade de produtos para a festividade, em um esforço para oferecer alternativas mais acessíveis aos consumidores.

Apesar dos desafios, grandes empresas e varejistas projetam crescimento de até 40% no faturamento do período. Já companhias de pequeno e médio porte – que sofrem mais com a pressão nos custos – esperam resultados menos expressivos.

Com alta de 150% no ano passado, o cacau foi a commodity agrícola que mais encareceu. Segundo Rafael Borges, analista de inteligência de mercado da StoneX, a indústria nunca pagou tão caro pela matéria-prima. “Em alguns casos, a commodity representa apenas 10% do custo de produção, mas como o impacto de alta foi muito abrupto, já existe um reflexo da valorização do cacau nas gôndolas”, disse.

Inflação dos ovos

Na ponta, grandes varejistas sentiram os reajustes nas negociações para esta Páscoa. A rede Carrefour observou um aumento médio de 8% a 12% nos preços dos ovos nacionais. Para os importados, a alta foi de aproximadamente 20%. Marco Alcolezi, diretor executivo de operações nos formatos Super, Hiper e Express, disse que a rede antecipou as compras e espera vendas positivas no período, com crescimento de duplo dígito em barras e caixas de bombons. O GPA, dono das redes Pão de Açúcar e Extra, prevê crescimento de 10% nas vendas de chocolates ante 2024, com ligeiro avanço de volume. O grupo não comentou sobre preços.

Diante dessa pressão, o setor de chocolates tem se esforçado para oferecer produtos mais acessíveis ao bolso do consumidor. “O ovo de Páscoa hoje é um item muito caro. Com esse novo momento de mercado, a indústria se adequou e está muito mais inovadora, entregando produtos com mais recheio, ou utilizando também frutas e castanhas, por exemplo, para reduzir o teor de cacau na composição dos chocolates”, avalia Adilson Reis, analista especializado no mercado do cacau.

Segundo a entidade que representa o setor, a produção de ovos para a Páscoa deste ano totalizou 45 milhões de unidades, queda de 10% em relação a 2024. A variedade de produtos ofertados, por sua vez, saltou de 600 para 800. “As empresas estão tomando medidas para enfrentar esse período e impactar o mínimo possível o consumidor”, disse Jaime Recena, presidente executivo da Associação das Indústrias de Chocolate, Amendoim e Balas (Abicab).

A Mondelez, dona das marcas Lacta e Milka, terá a opção do ovo Lacta de 130g, além do tradicional de 250g. “Também fortalecemos nossa oferta na linha regular e de presenteáveis, para complementar a jornada dos clientes”, explicou Renata Vieira, vice-presidente de Marketing, por e-mail.

Na Nestlé, a aposta será no resgate de sabores nostálgicos, com ovos das marcas Caribe e Charge, inspirados nos tradicionais bombons de mesmo nome, além do Ovo Chocotrio, que combina chocolate com biscoito, diz Tatianna Perri, diretora de marketing de chocolates, por e-mail. As duas multinacionais dizem ter expectativas positivas para o período, mas não detalham o crescimento esperado.

As empresas estão tomando medidas para afetar o mínimo possível o consumidor”

— Jaime Recena

Neste ano, a Páscoa acontece mais para o fim de abril, reduzindo a pressão dos gastos de início de ano, lembrou Daniel Roque, vice-presidente da Cacau Show. “Acreditamos muito que as pessoas não vão deixar de celebrar esse momento”, disse. A companhia pretende faturar R$ 2 bilhões, o que, caso se confirme, representará aumento de 38% em relação a 2024.

Na contramão das grandes corporações, o empresário Ernesto Neugebauer não está tão otimista com a festividade. “Será uma Páscoa no mínimo 20% menor que outros anos. Posso estar sendo conservador, mas é uma redução importante”, disse. Há mais de 45 anos nesse mercado, Neugebauer foi um dos fundadores da Harald – focada em produtos para confeitaria – e atualmente é sócio e presidente da Danke.

Na sua avaliação, a festividade será marcada pela venda de tabletes e bombons, enquanto os ovos de Páscoa devem ter maior saída em lojas especializadas, devido ao preço elevado. Ele observa ainda que, enquanto as grandes empresas possuem mecanismos de proteção para lidar com esse cenário, as pequenas e médias sentirão o impacto com mais intensidade.

Sua filha, Carolina Neugebauer, é CEO da Noir Chocolates, especializada em chocolates finos. Para a Páscoa deste ano, ela projeta um crescimento de 8%, número bem inferior aos 20% de expansão que a marca vinha apresentando. “Continuamos crescendo, mas desde a crise do cacau, o ritmo é mais conservador”, disse.

Do ponto de vista de custo, o cenário de alta da matéria-prima não se altera no curto prazo, afirmou Borges, da StoneX. Dessa forma, as indústrias terão que continuar se reinventando para reduzir o impacto em seus negócios.

Globo Rural

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