
É impossível passar pela Rua Sebastião Donato e não notar a quantidade de pessoas brindando com um copinho de café, durante o Maior São João do Mundo, em Campina Grande, na Paraíba. Mas não se engane, não é café que os forrozeiros estão bebendo. Eles estão desfrutando da cachaça mais famosa do Parque do Povo: o ‘Bom que Dói’. O nome precede a experiência. A bebida desce queimando por dentro, mas é boa e barata, custando apenas R$ 4,00. Por isso, as pessoas repetem. Bom Que Dói, de fato!
A história dessa cachaça surgiu há 32 anos, da necessidade de Francilda dos Santos ter uma fonte de renda. Afinal, ela estava grávida e desempregada, assim como o seu marido, Nino. O casal viu na festa junina uma oportunidade de fazer dinheiro. “Estava pra ganhar neném e foi assim que a gente inventou [o ‘Bom Que Dói’], a gente puxava um carrinho e era ambulante. Começamos como ambulantes e depois conseguimos um quiosque, que hoje é o quiosque mais conhecido do Parque do Povo”, conta em entrevista ao Terra.
A bebida é servida em um copinho de plástico em que tradicionalmente se serve café. O conteúdo é composto de metade de cachaça e metade de leite condensado. Essa mistura faz a alegria dos moradores da Rainha da Borborema e dos turistas. ‘Fia do Bom Que Dói’, como Francilda é conhecida entre os clientes, faz questão de brindar e beber junto com eles. Ela faz uma grande festa enquanto atende os forrozeiros.
Bom Que Dói
Quem prova uma vez pede bis e o segredo a empreendedora não esconde de ninguém. “É uma bebida marcante porque é muito regional, algo da gente (…). Quando a gente toma, dá então aquela quentura na orelha, e o pé que tá gelado fica quentinho. O forrozeiro já vai dançar mais animado. Sem falar no preço, que também é muito bom, acessível pra todo mundo e custa apenas R$ 4,00”, explica.

A fama de ter a bebida mais famosa do Maior São João do Mundo não é de agora. A consagração veio em doses. Conforme Fia, a primeira famosa que notou a sua bebida e elogiou foi a cantora Solange Almeida, quando ainda era vocalista da banda de forró Aviões do Forró. Sem dúvidas, o ápice aconteceu principalmente quando a paraibana Juliette falou da cachaça durante a sua participação no Big Brother Brasil, em 2021.
Para aguentar as 38 noites de trabalho no Maior São João do Mundo, a empreendedora tem a fé e o apoio familiar como combustíveis. A Francilda conta que sempre tem um ritual antes de sair de casa. Ela, o marido e a filha se unem para fazer uma oração antes do trabalho, além de se abraçarem e falarem juntos “mais um dia”.
Mas não é feito só de cachaça e trabalho o São João do Bom Que Dói. Entre uma dose e outra, Fia diz que observa muitas histórias engraçadas acontecendo ao redor do seu quiosque. Ela lembra do dia em que um rapaz, já alegre demais, avistou um forrozeiro descendo a rua usando sandálias de tiras de couro, parecidas com as de Jesus. “Ele arregalou os olhos e gritou: ‘Meu Deus, já tô bêbado, lá vem Jesus!’”, relembra, aos risos.