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Advogada dormindo de chupeta
Advogada que dorme de chupeta – Foto: Reprodução

À noite, quando a casa já estava em silêncio, ela tinha um ritual secreto. Na mesinha de cabeceira, ao lado da cama, não repousavam apenas um copo d’água e o celular carregando. Havia também uma chupeta. Advogada, adulta, com a rotina marcada por processos e audiências, ela guardava para si um hábito que parecia pertencer a outra fase da vida. Era com aquele objeto infantil que conseguia adormecer, acalmando a ansiedade que a acompanhava a cada instante.

Durante meses, manteve o costume escondido do namorado. Tinha vergonha. Na presença dele, evitava. Dormia inquieta ou então não conseguia pegar no sono. Até o dia em que o acaso a expôs. Ele chegara de viagem mais cedo que o previsto e a encontrou, já deitada, succionando a chupeta. O constrangimento foi imediato. Ela ficou arrasada.

Na sessão seguinte de terapia, contou o episódio à psicóloga. Havia ali, explicou a especialista, não apenas o gesto de buscar alívio, mas também camadas de emoção: ansiedade que pedia consolo, seguida de culpa e vergonha. “É como se fossem duas emoções: primeiro a necessidade de aliviar a angústia e depois o peso de se sentir inadequada”, descreveu a psicóloga Luciana Bricci ao Terra.

O relacionamento não chegou a acabar pelo episódio. Mas a paciente, diagnosticada com transtorno de personalidade borderline, carregava uma série de instabilidades: dificuldades no trabalho, crises de autoestima e inseguranças além da chupeta.

Quadro psicológico

O quadro, conforme a especialista, é o mais comum. Um adulto, já lidando com uma série de instabilidades ou até transtornos, busca por um alívio imediato em forma de chupeta.

“A sucção não nutritiva — seja mordendo canudos, mastigando tampas ou usando chupetas — ativa receptores orais e desencadeia circuitos de relaxamento no cérebro, liberando neurotransmissodres que reduzem temporariamente a tensão. É como apertar um ‘botão de pausa’ para o desconforto.” 

De acordo com a psicóloga, que já atendeu três casos do tipo, raramente os pacientes buscam ajuda especificamente para largar a chupeta. “É realmente um detalhe que eles não focam nem tocam nem contam. Têm vergonha. […] De todos os problemas que você tem, a chupeta é o que nós vamos deixar por último. Agora, se fosse uma pessoa mais estável e pegou a chupeta, aí essa pessoa, se ela vier pra terapia, a gente já tira na hora”.

Construção de caminhos neurais

Apesar de oferecer alívio imediato, a chupeta não é considerada um recurso saudável. “Para pessoas que têm uma ansiedade mais comum, um transtorno de pânico ou uma depressão, as chupetas não auxiliam em nada. Muito pelo contrário, porque dentro da neurociência, vai dizer que a gente não trabalha a plasticidade do cérebro”, aponta Bricci, especialista na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC).

Para que o cérebro aprenda que uma emoção pode ser superada, é preciso enfrentá-la — processo que cria um novo caminho neural. Em transtornos como ansiedade ou depressão, uma parte central do sofrimento está nos padrões automáticos de pensamento e reação. O cérebro se acostuma a responder sempre da mesma maneira: evitar situações, se criticar em excesso, antecipar o pior.

Esses caminhos neurais já estão tão consolidados que parecem a única opção. Mas, ao interromper os pensamentos catastróficos, inicia-se a abertura de uma nova trilha. Aos poucos, o cérebro fortalece essas conexões e o paciente aprende estratégias melhores de regulação emocional. Ao usar a chupeta como “muleta”, não se cria um caminho neural novo.

Estratégias de regulação

No lugar, a especialista aponta estratégias respaldadas pela ciência. “Para manter a minha regulação emocional em equilíbrio, eu uso estratégias realmente eficazes. E quais são as estratégias realmente eficazes? A respiração, um autocuidado, a exposição prolongada, atenção plena no momento presente”.

O papel das redes

Enquanto para alguns o uso da chupeta é motivo de vergonha, para outros, é moda. Em países como na China, Japão e Estados Unidos, o acessório se popularizou entre adultos que o compartilham nas redes sociais.

Lojas já vendem chupetas adultas com decorações por valores que chegam a US$ 75 (R$ 404). Os usuários alegam que o acessório serve como “válvula de escape” para o estresse do cotidiano. Para Bricci, o movimento é preocupante.

“No caso da minha paciente, por exemplo, pode normalizar o uso. Só que não vai fazer efeito. É um band-aid. Tem uma ferida muito maior a ser tratada”, pontua Bricci.

Terra

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