
Localizado em um arquipélago nas águas glaciais, no extremo norte do planeta, o Aeroporto de Svalbard, na Noruega, corre o risco de desaparecer entre os próximos anos, devido às mudanças climáticas. A estrutura, que recebe voos comerciais regulares, foi construída na década de 1970 sobre uma espessa camada de solo congelado. Hoje, essa camada sofre com um preocupante processo de derretimento.
O derretimento avança de maneira mais intensa durante as estações mais ensolaradas. Segundo a CNN, todos os dias durante esse período, os funcionários precisam verificar meticulosamente a pista de 2.300 metros para confirmar a segurança do solo para pousos e decolagens. Isso ocorre porque existem riscos de o espaço ceder a qualquer momento.
A manutenção da infraestrutura do aeroporto é essencial para garantir o bem-estar dos 2.500 moradores do arquipélago. Caso ele fechasse, a maior parte dos suprimentos essenciais teria que chegar à região via navio, impactando diretamente na vida da população. A viagem pelo mar é turbulenta e pode levar até dois dias.
“Sempre mantemos pessoal e material extras aqui na ilha”, explica Ragnhild Kommisrud, gerente do Aeroporto de Svalbard, à CNN. “Se algo quebrar, precisamos ser autossuficientes e capazes de consertar nós mesmos. Não podemos depender de ajuda externa, pois ela pode demorar muito para chegar”.
Transição energética
Apesar de sua posição remota, Svalbard é dotada de ricos depósitos de carvão próximos a fiordes profundos e sem gelo. Isso a torna um local adequado para mineração. Pelo Tratado de Svalbard, assinado em 1920, a Noruega tem soberania sobre as ilhas. Outros países, como a Rússia e membros da União Europeia, também têm o direito de desenvolver atividades econômicas por ali.
Como resultado, diversas nações estabeleceram operações de mineração na área na primeira metade do século 20. Contudo, em tempos de maior sensibilidade ambiental, como o que se vive atualmente, tal dependência do carvão tem sido um ponto central em discussões a respeito da necessidade de uma transição energética.

Na última década, as minas operadas pela Noruega vêm reduzindo sua produção. Sveagruva, uma das maiores e mais produtivas minas de Svalbard, foi fechada em 2020. Uma mina de carvão operada pela Rússia em Barentsburg, o segundo maior assentamento da ilha, permanece aberta, mas supostamente também está reduzindo a produção.
Svalbard
Curiosamente, embora Svalbard passe quatro meses por ano em escuridão total, a ilha conta com uma usina de energia solar desde 2015. “É verdade que ela não funciona durante parte do ano. Mas, no verão, a situação se inverte e temos quase 24 horas de luz solar ininterrupta”, explica Kommisrud. A captação de energia solar funciona até melhor em temperaturas mais baixas. Portanto, as condições árticas tornam esta usina particularmente produtiva.
Em 2023, por sua vez, uma usina termelétrica a carvão de Longyearbyen foi finalmente desativada. Sua substituição foi por uma nova usina movida a diesel. Esta solução ainda é imperfeita devido à sua alta pegada de carbono, mas conseguiu reduzir as emissões de carbono quase pela metade.
Para 2026, a Avinor, empresa que administra o aeroporto, ainda planeja construir uma nova usina de biogás local. Contudo, a medida vai ao encontro do seu compromisso de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 42% até 2030. Isso em relação aos níveis de 2022, e em 90% até 2050.
Destino turístico
Há algum tempo, com a mineração do carvão praticamente esgotada, Svalbard voltou-se para o turismo como sua principal atividade econômica. À princípio, o arquipélago chamou atenção dos interessados em praticar esportes radicais, como trenó e snowmobile.
Mais tarde, as ilhas passaram a se tornar um destino também para quem queria apreciar a famosa aurora boreal. Os visitantes também podem conhecer a fauna, flora e funga únicas da zona setentrional do planeta. Hoje, mais de 70 empresas privadas relacionadas ao turismo atuam na região.

O verão é tradicionalmente a época de maiores visitas, quando cruzeiros costumam realizar expedições no local. A alta temporada, no entanto, está sendo estendida, conforme mais pessoas a visitam no inverno, quando as auroras são bastante comuns. Além disso, no início da primavera os dias ficam mais longos.
Essa atividade econômica pode muito bem ser o “novo carvão” de Svalbard. No entanto, tanto a indústria do turismo quanto as autoridades parecem estar cientes do seu dever de proteção da natureza selvagem. Tanto é que o número de acomodações para visitantes em Svalbard foi limitado a somente 500 quartos. A expectativa é que isso permaneça assim no futuro próximo.
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