
O dançarino e coreógrafo Carlinhos de Jesus, de 72 anos, falou sobre o processo de recuperação após o diagnóstico de uma doença autoimune que impactou parte dos seus movimentos, necessitando do uso de cadeira de rodas e muletas. Em entrevista ao Fantástico deste domingo, 31 de agosto, relatou desafios e como a sua relação com a dança foi impactada.
“Essa eu também vou quebrar. É só olhar lá para trás e ver o que já passei. E estou aqui”, disse. “A dança é uma forma de resistência”, completou. “Foi a dança que me salvou, porque todas as grandes perdas que eu tive na vida, a dança é o meu espelho, o meu divã. Agora, não tenho esse divã”, lamentou.
Nesse meio tempo, o dançarino também falou sobre as mudanças na relação com a dança. “Agora tem que coordenar a mão com o pé e a cabeça, Antes era só a perna”, disse. “(Quando fecho o olho) Me imagino dançando, com cadeira de rodas e sem a cadeira de roda”, respondeu.
O início
Na entrevista, Carlinhos recordou que havia começado a perder parte da força na perna direita há cerca de três anos. Foi em junho, contudo, que a situação piorou, com o início do que descreve como uma “dor insuportável”. “Estava no Rio Grande do Sul, na cidade de Passo Fundo, comecei a sentir uma dor que eu não conseguia colocar o pé no chão. Eu não conseguia andar”, relembrou.
Ele contou que procurou um médico assim que voltou para casa, sendo internado na sequência. “Quando cheguei ao Rio de Janeiro, já não aguentava mais de dor. E cheguei a cair”, conta. “Era tanta dor que a medicação para eu dormir era morfina.”
Além de uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso, o dançarino também foi diagnosticado com inflamação nos quadris e tendinite nos glúteos. “A minha cabeça hoje é viver o hoje. Mas, quando eu penso: ‘e o amanhã?’. Aí eu começo a me apavorar. Como vou viver?”, desabafou.
Tratamento
Para tanto, tem feito tratamento com imunoterapia, musculação, exercícios funcionais e fisioterapia. “É um tempo de paciência, resiliência, calma. Para que eu possa caminhar”, apontou. Já levei tantas rasteiras, tanta pancada, a última pancada dói até hoje”, disse, em referência ao assassinato do filho, Carlos Eduardo, aos 32 anos, em 2011.
Carlinhos se emocionou ao contar sobre a participação no tradicional Festival de Dança de Joinville, em Santa Catarina, no qual dançou em uma cadeira de rodas. “‘A comissão do festival quer o Carlinhos de Jesus aqui do jeito que ele estiver. Ele só não vem se ele não quiser, mas o festival quer ele aqui, porque ele é uma autoridade. A presença dele é importante no festival'”, recordou-se.
Nesse ínterim, o dançarino se emocionou. “Ela, quando falou isso, eu chorei. Jamais podia imaginar que o Festival de Joinville dissesse isso. Ao mesmo tempo, comecei já a elaborar, já vesti uma outra vibe, uma outra energia: ‘o que vou fazer com cadeira de rodas (em termos de coreografia)?'”, completou.
Fonte: O ESTADÃO