
A dentista piauiense Janaína Barroso foi picada por uma aranha-marrom, durante uma viagem à Brasília (DF), e, para evitar sofrer necrose nas coxas ou mesmo correr risco de morte, passou por procedimentos dolorosos, uso de antibióticos, aplicação de laser e internação que durou 21 dias.
Segundo o Painel Epidemiológico de Acidentes por Animais Peçonhentos do Ministério da Saúde, o Brasil registrou quase 21 mil acidentes com aranhas no primeiro semestre de 2025. Desses, 24 resultaram em mortes.
No Distrito Federal, onde a aranha picou Janaína, notificaram 94 ocorrências do tipo, enquanto 189 aconteceram no Piauí. Em ambos os estados, não houve mortes decorrentes desses acidentes.
🕷️ A aranha-marrom é pequena e vive em locais escuros e escondidos. Sua picada é perigosa e pode causar feridas graves. Apesar disso, ela não é agressiva e, geralmente, só ataca se pressionada.
Conforme a médica infectologista Elna Amaral, o soro antiaracnídico é a principal arma contra os males causados pelas picadas, mas há cuidados preventivos que podem ser tomados, como sacudir roupas e manter a casa limpa.
Das picadas à internação
Em entrevista ao g1, a dentista relatou que se hospedou em um hotel na Asa Sul de Brasília, entre 26 e 29 de maio, para participar de um evento de odontologia. Ao voltar para Teresina, no último dia, sentiu uma picada na coxa direita e uma coceira na coxa esquerda.
“Eu nem cheguei a ver, só senti aquele leve prurido (coceira), achei que eu tivesse sido picada por uma muriçoca. Nunca me passou pela cabeça que pudesse ter sido qualquer outra coisa”, lembrou.
No fim de semana, após o evento, Janaína percebeu que havia uma área avermelhada ao redor da picada na coxa direita, que já começava a se parecer com um furúnculo. Foi quando o marido dela apontou que também havia uma na outra coxa.
Dias depois, em 2 de junho, a dentista se sentiu bastante abatida e compartilhou a situação com a irmã médica e algumas amigas. Elas cogitaram a possibilidade de acidente com percevejo ou escorpião e recomendaram atendimento médico.
Assim, em 5 de junho, Janaína foi ao Instituto de Doenças Tropicais Natan Portella, em Teresina, e fez um exame que confirmou a picada de aranha-marrom. Ela tomou um soro antiaracnídico, que, no entanto, é mais eficiente se administrado dentro de 48 horas.
Recuperação
Nas semanas seguintes, a odontóloga recebeu curativos de um estomaterapeuta — profissional especialista em feridas — e começou a aplicação de laser nas áreas das picadas. Como os ferimentos evoluíram, precisaram interna-la por três dias.
“O cirurgião vascular me passou o encaminhamento para internar, tomar antibiótico venoso e [receber] os curativos diários no hospital. Ao todo, foram quatro antibióticos. Também fiz uso de corticoide”, elencou.
Janaína recebeu alta em 18 de junho e, desde então, continua cuidando dos ferimentos em casa. Ela conta que, graças ao tratamento, houve uma melhora significativa e eles estão quase fechando. “Tive uma rede de apoio muito boa, mas fico pensando em quem não tem acesso a essas informações”, refletiu.
Soro e cuidados preventivos
A médica infectologista Elna Amaral explicou ao g1 que a picada da aranha-marrom não dói na hora, mas depois causa vermelhidão, inchaço e feridas na pele — exatamente como aconteceu a Janaína.
“Em casos mais graves, a pessoa pode ter febre, mal-estar, anemia ou problemas renais. Por isso, toda picada suspeita deve se investigar e tratar com soro antiaracnídico o quanto antes”, ressaltou Elna.
De acordo com a médica, os cuidados preventivos mais importantes são:
- Manter a casa limpa e sem entulhos, principalmente atrás de móveis, quadros ou objetos guardados;
- Sacudir roupas, toalhas, lençóis e calçados antes de usar;
- Usar luvas ao mexer em lugares fechados, caixas ou materiais de construção;
- Evitar acumular bagunça ou objetos que sirvam de esconderijo para esses animais.
Se houver a picada, além da administração do soro em até 48 horas, outras orientações incluem:
- Lavar o local com água e sabão;
- Não espremer, não furar e não passar nenhum tipo de produto caseiro ou remédio no local sem orientação médica;
- Procurar atendimento médico o mais rápido possível, mesmo que a picada pareça pequena.
“Elas gostam de locais quentes, então, nessa época de frio, em alguns locais do Brasil, acabam indo para dentro das casas para se aquecer”, completou a infectologista.