
O discurso impecável de Luciano Huck no encerramento do ‘Domingão’ teve efeito de um editorial de telejornal.
Ao lamentar a letalidade da megaoperação no Rio, ele ressaltou que a ausência do Estado faz “outro poder ocupar o lugar”.
“A violência urbana é a maior dor do Brasil”, afirmou. Disse que as crianças das comunidades precisam ter “sentido de pertencimento” para enxergar “outros futuros possíveis”, sem ser o crime.
Solidarizou-se com as mães dos mortos, inclusive a dos quatro agentes da lei, e reafirmou a importância de “valorizar a polícia e o policial”.
Artista com forte atuação política nos bastidores, Huck representa a parcela consciente da elite econômica do país.
Sua postura diante das câmeras revelou não apenas coragem, mas também noção de responsabilidade pública.
Ele falou com serenidade e firmeza, sem ceder à demagogia nem buscar aplausos fáceis. Manteve tom equilibrado e ético, reforçando a imagem de um comunicador consciente do poder da palavra e do alcance de sua voz.
Ao transformar um programa de entretenimento em espaço de reflexão, mostrou que a televisão ainda pode servir ao interesse coletivo e que o verdadeiro protagonismo, hoje, está em quem escolhe se posicionar com sensatez num país dividido e cansado da violência.
Luciano Huck
Luciano Huck não se aliena em mansão inacessível e carro blindado. Enxerga o caos ao seu redor, exerce a empatia com anônimos, acredita em soluções pacíficas para reconstruir o frágil tecido social. Demonstra honestidade intelectual.
Nem todos acreditam em suas boas intenções, provavelmente por interpretá-lo apenas como um apresentador em busca de audiência e um homem de negócios cada vez mais rico.
Em confortável situação na carreira e na vida particular, Huck não precisaria dar a cara a tapa — e se tornar alvo fácil de críticas e ironias — ao comentar a operação sangrenta.
Poderia ignorar a polêmica, assim como fizeram a maioria dos colegas de TV, das subcelebridades ávidas por fama e dos influencers ostentadores.
A opção de expor o que acredita merece respeito e deveria ser copiada. Artistas com valiosa visibilidade não podem ignorar as desgraças do Brasil real. Não precisam adotar posição ideológica, basta incentivar a reflexão e apoiar iniciativas pela paz.
Afinal, ninguém está imune de ser a próxima vítima ou chorar pelo próximo morto: estamos todos — absolutamente todos — na mesma guerra diária pela sobrevivência.